sábado, 9 de abril de 2011

Do que estamos à espera para formar um movimento de cidadãos ?

Porque silenciam a ISLÂNDIA?

(Estamos neste estado lamentável por causa da corrupção interna - pública
e privada com incidência no sector bancário - e pelos juros usurários que
a Banca Europeia nos cobra.
Sócrates foi dizer à Sra. Merkle - a chanceler do Euro - que já tínhamos
tapado os buracos das fraudes e que, se fosse preciso, nos punha a pão e
água para pagar os juros ao valor que ela quisesse.
Por isso, acho que era altura de falar na Islândia, na forma como este
país deu a volta à bancarrota, e porque não interessa a certa gente que se
fale dele)
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Não é impunemente que não se fala da Islândia (o primeiro país a ir à
bancarrota com a crise financeira) e na forma como este pequeno país
perdido no meio do mar, deu a volta à crise.
Ao poder económico mundial, e especialmente o Europeu, tão proteccionista
do sector bancário, não interessa dar notícias de quem lhes bateu o pé e
não alinhou nas imposições usurárias que o FMI lhe impôs para a ajudar.
Em 2007 a Islândia entrou na bancarrota por causa do seu endividamento
excessivo e pela falência do seu maior Banco que, como todos os outros, se
afogou num oceano de crédito mal parado. Exactamente os mesmo motivos que
tombaram com a Grécia, a Irlanda e Portugal.
A Islândia é uma ilha isolada com cerca de 320 mil habitantes, e que
durante muitos anos viveu acima das suas possibilidades graças a estas
"macaquices" bancárias, e que a guindaram falaciosamente ao 13º no ranking
dos países com melhor nível de vida (numa altura em que Portugal detinha o
40º lugar).
País novo, ainda não integrado na UE, independente desde 1944, foi desde
então governado pelo Partido Progressista (PP), que se perpetuou no Poder
até levar o país à miséria.
Aflito pelas consequências da corrupção com que durante muitos anos
conviveu, o PP tratou de correr ao FMI em busca de ajuda. Claro que a
usura deste organismo não teve comiseração, e a tal "ajuda" ir-se-ia
traduzir em empréstimos a juros elevadíssimos (começariam nos 5,5% e daí
para cima), que, feitas as contas por alto, se traduziam num empenhamento
das famílias islandesas por 30 anos, durante os quais teriam de pagar uma
média de 350 Euros / mês ao FMI. Parte desta ajuda seria para "tapar" o
buraco do principal Banco islandês.
Perante tal situação, o país mexeu-se, apareceram movimentos cívicos
despojados dos velhos políticos corruptos, com uma ideia base muito
simples: os custos das falências bancárias não poderiam ser pagos pelos
cidadãos, mas sim pelos accionistas dos Bancos e seus credores. E todos
aqueles que assumiram investimentos financeiros de risco, deviam agora
aguentar com os seus próprios prejuízos.
O descontentamento foi tal que o Governo foi obrigado a efectuar um
referendo, tendo os islandeses, com uma maioria de 93%, recusado a assumir
os custos da má gestão bancária e a pactuar com as imposições avaras do
FMI.
Num instante, os movimentos cívicos forçaram a queda do Governo e a
realização de novas eleições.
Foi assim que em 25 de Abril (esta data tem mística) de 2009, a Islândia
foi a eleições e recusou votar em partidos que albergassem a velha, caduca
e corrupta classe política que os tinha levado àquele estado de penúria.
Um partido renovado (Aliança Social Democrata) ganhou as eleições, e
conjuntamente com o Movimento Verde de Esquerda, formaram uma coligação
que lhes garantiu 34 dos 63 deputados da Assembleia). O partido do poder
(PP) perdeu em toda a linha.
Daqui saiu um Governo totalmente renovado, com um programa muito
objectivo: aprovar uma nova Constituição, acabar com a economia
especulativa em favor de outra produtiva e exportadora, e tratar de
ingressar na UE e no Euro logo que o país estivesse em condições de o
fazer, pois numa fase daquelas, ter moeda própria (coroa finlandesa) e ter
o poder de a desvalorizar para implementar as exportações, era
fundamental.
Foi assim que se iniciaram as reformas de fundo no país, com o inevitável
aumento de impostos, amparado por uma reforma fiscal severa. Os cortes na
despesa foram inevitáveis, mas houve o cuidado de não "estragar" os
serviços públicos tendo-se o cuidado de separar o que o era de facto, de
outro tipo de serviços que haviam sido criados ao longo dos anos apenas
para serem amamentados pelo Estado.
As negociações com o FMI foram duras, mas os islandeses não cederam, e
conseguiram os tais empréstimos que necessitavam a um juro máximo de 3,3%
a pagar nos tais 30 anos. O FMI não tugiu nem mugiu. Sabia que teria de
ser assim, ou então a Islândia seguiria sozinha e, atendendo às suas
características, poderia transformar-se num exemplo mundial de como sair
da crise sem estender a mão à Banca internacional. Um exemplo perigoso
demais.
Graças a esta política de não pactuar com os interesses descabidos do
neo-liberalismo instalado na Banca, e de não pactuar com o formato do
actual capitalismo (estado de selvajaria pura) a Islândia conseguiu,
aliada a uma política interna onde os islandeses faziam sacrifícios, mas
sabiam porque os faziam e onde ia parar o dinheiro dos seus sacrifícios,
sair da recessão já no 3º Trimestre de 2010.
O Governo islandês (comandado por uma senhora de 66 anos) prossegue a sua
caminhada, tendo conseguido sair da bancarrota e preparando-se para dias
melhores. Os cidadãos estão com o Governo porque este não lhes mentiu,
cumpriu com o que o referendo dos 93% lhe tinha ordenado, e os islandeses
hoje sabem que não estão a sustentar os corruptos banqueiros do seu país
nem a cobrir as fraudes com que durante anos acumularam fortunas
monstruosas. Sabem também que deram uma lição à máfia bancária europeia e
mundial, pagando-lhes o juro justo pelo que pediram, e não alinhando em
especulações. Sabem ainda que o Governo está a trabalhar para eles,
cidadãos, e aquilo que é sector público necessário à manutenção de uma
assistência e segurança social básica, não foi tocado.
Os islandeses sabem para onde vai cada cêntimo dos seus impostos.
Não tardarão meia dúzia de anos, que a Islândia retome o seu lugar nos
países mais desenvolvidos do mundo.
O actual Governo Islandês, não faz jogadas nas costas dos seus cidadãos.
Está a cumprir, de A a Z, com as promessas que fez.
Se isto servir para esclarecer uma única pessoa que seja deste pobre país
aqui plantado no fundo da Europa, que por cá anda sem eira nem beira ao
sabor dos acordos milionários que os seus governantes acertam com o
capital internacional, e onde os seus cidadãos passam fome para que as
contas dos corruptos se encham até abarrotar, já posso dar por bem
empregue o tempo que levei a escrever este artigo.

Por Francisco Gouveia, Eng.º
gouveiafrancisco@hotmail.com

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