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Vivemos num pais de imensa tradição marítima, mas onde apenas nos preocupamos com futebol ou com escândalos políticos e nada fazemos para salvaguardarmos o que culturalmente nos pertence ou pertenceu. Tudo isto é absurdo, porque não podemos pensar no futuro sem salvaguardar o passado. A revolução de Abril de 74 deu a machadada final e nos anos que se seguiram ao terrível dia a maioria dos navios que compunham a nossa imensa frota marítima, quer de guerra quer mercante, foi vergonhosamente abatida ou doada aos movimentos terroristas nas nossas províncias africanas.
Poucos foram os casos em que entidades públicas e privadas portuguesas se esforçaram por concretizar actos de conservação do nosso património.
Poucos foram os casos em que entidades públicas e privadas portuguesas se esforçaram por concretizar actos de conservação do nosso património.
O "Infante D. Henrique" foi o sonho do armador Bernardino Corrêa, o fundador da Companhia Colonial de Navegação, que nunca o chegou a ver. Foi construído na Bélgica nos estaleiros da Jonh Cockeril, em Hobboken, o mesmo estaleiro onde já tinham sido construídos o Vera Cruz e o Santa Maria. A 21 de Setembro de 1961 entrou na barra de Lisboa embandeirado em arco, iniciando assim um serviço promissor para a Marinha Portuguesa. Com a sua aquisição fechou-se o ciclo de renovação da frota, iniciada ao abrigo do chamado despacho 100, elaborado pelo então Ministro da Marinha, Américo Thomaz.
O Infante era um navio clássico com a sua famosa chaminé em formato de gota de água com uma enorme grelha de ventilação na parte frontal; com os seus 195,50 m de comprimento, 24,5 de boca e 24.000 toneladas de deslocamento, atingia uma velocidade de cruzeiro de 21 nós, podendo atingir uma máxima de 22-23 nós se as condições o permitissem. Aquando do lançamento do casco de côr cinzento esverdeado, a côr tradicional da CCN, foi utilizada uma garrafa de vinho do Porto, cuja marca ninguém sabe. Talvez um «Porto Ferreira», em vez da tradicional garrafa de champanhe. A madrinha foi a esposa do administrador da companhia, que na altura, rezam os manuscritos, era José Soares da Fonseca .
Na época foi bastante criticado por ser bom demais e era o maior navio de passageiros da carreira de África.
Em qualquer porto era motivo de atracção e registo. A sua imponência e o perfil majestoso despertavam o interesse de todos os curiosos. Era um excelente embaixador português á semelhança do navio-escola Sagres.
Em qualquer porto era motivo de atracção e registo. A sua imponência e o perfil majestoso despertavam o interesse de todos os curiosos. Era um excelente embaixador português á semelhança do navio-escola Sagres.
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Já o então Presidente da República, o Almirante Américo Thomaz, gostou tanto do navio que no dia seguinte à chegada a Lisboa voltou a visitá-lo, segundo as crónicas da época. No interior, era um excelente navio, de um luxo impressionante. A decoração foi entregue a decoradores e artistas portugueses sob a responsabilidade do arquitecto José Manuel Barreto. Funcional e moderno, a luz privilegiava a amplitude dos espaços, o que tornava o navio mais bonito.
Uma estátua de bronze revestida a Ouro, do escultor Álvaro Brèe, perpetuava a figura do Infante, tendo como fundo um fresco representando o planisfério de Mecia de Viladestes, no vestíbulo da 1ª Classe.
Uma estátua de bronze revestida a Ouro, do escultor Álvaro Brèe, perpetuava a figura do Infante, tendo como fundo um fresco representando o planisfério de Mecia de Viladestes, no vestíbulo da 1ª Classe.
Na véspera do 5 de Outubro de 1961, com lotação esgotada, o Infante D. Henrique fez-se ao mar, dando inicio á sua primeira Viagem pelo Império português no continente africano.
O navio era movido por dois grupos de turbinas a vapor, que accionavam duas hélices, navegando a uma velocidade de 21 nós. Por cada dia de navegação o Infante D. Henrique consumia 150 toneladas de fuel e 200 de água. Um sistema de estabilizadores avançado neutralizava o balanço provocado pela ondulação em dias impróprios para os mais sensíveis passageiros. Dispunha de ar condicionado em todos os compartimentos e zonas de lazer, assim como um moderníssimo sistema de navegação e comunicações e de combate a incêndios.
O navio era movido por dois grupos de turbinas a vapor, que accionavam duas hélices, navegando a uma velocidade de 21 nós. Por cada dia de navegação o Infante D. Henrique consumia 150 toneladas de fuel e 200 de água. Um sistema de estabilizadores avançado neutralizava o balanço provocado pela ondulação em dias impróprios para os mais sensíveis passageiros. Dispunha de ar condicionado em todos os compartimentos e zonas de lazer, assim como um moderníssimo sistema de navegação e comunicações e de combate a incêndios.
Tinha capacidade para 1018 passageiros distribuídos por três classes: 1ª Classe, Turística e Turística B.
Além de quatro grandes salões e bares, o Infante D. Henrique dispunha de dois restaurantes, biblioteca, sala de leitura, sala de escrita e duas salas para crianças, cabeleireiro, hospital e duas capelas, cujos altares foram fabricados com pedra do promontório de Sagres. Impressionante no mínimo !
Além de quatro grandes salões e bares, o Infante D. Henrique dispunha de dois restaurantes, biblioteca, sala de leitura, sala de escrita e duas salas para crianças, cabeleireiro, hospital e duas capelas, cujos altares foram fabricados com pedra do promontório de Sagres. Impressionante no mínimo !
De 1961 a 1976, efectuou inúmeras viagens ao continente africano como navio de transporte de passageiros, realizou vários cruzeiros e transportou o Presidente da República Américo Thomaz em viagens oficiais.
Com a revolução de Abril e devido à situação politica nas províncias Portuguesas, as viagens alteraram-se radicalmente. Ou seja, o navio quando rumava para Sul, viajava completamente vazio e regressava cheio de espoliados e refugiados fugidos ao terroristas separatistas a quem os traidores entregaram as nossas províncias africanas.
Realizou o seu último cruzeiro ao Funchal de Dezembro de 1976 a 3 de Janeiro de 1977, ficando fundeado no mar da Palha até Maio de 1977, ano em que o GAS ( Gabinete da área de Sines) o adquiriu para acomodar alguns dos milhares de trabalhadores do complexo da área de Sines. Foi colocado numa lagoa artificial tornando-se uma presença bizarra e cara por terras alentejanas, degradando-se rapidamente.
Ao contrário do que acontecera a outros navios portugueses, cujo o fim era Kaohsiung, o cemitério de navios para a sucata, na Ilha Formosa, no ano de 1986, com o crescimento do mercado de cruzeiros no mundo, o armador grego George Potamianos adquiriu-o e transformou-o num paquete de luxo. Totalmente renovado interiormente, mantendo as linhas clássicas, o navio chegou a Lisboa em 1988, com o nome de «Vasco da Gama». Potamianos fez renascer este navio que, durante seis anos, realizou cruzeiros nas Caraíbas e deu a volta ao mundo por diversas vezes. Continuou a ser motivo de admiração e registo em qualquer porto a que aportava.
Em 1994, foi vendido á Premier Cruises, companhia americana, para cruzeiros nas Caraíbas, o seu nome foi mudado novamente para Seawind Crown. No ano 2000, ficou sedeado na Europa, em Barcelona, para cruzeiros no Mediterrâneo, mas sem grande sucesso, devido á forte concorrência de outras companhias, como a Costa Crociere, o que provocou, uma vez mais, a sua imobilização. Por falência da companhia e por ordem da Autoridade do Porto de Barcelona, o navio ficou arrestado nesse mesmo ano. O seu último comandante foi Amadeu Albuquerque.
Em Abril de 2000 o SEAWIND CROWN iniciou em Barcelona os cruzeiros da Pullmantur, que obtiveram enorme êxito e foram interrompidos inesperadamente em Setembro desse ano na sequência da falência da empresa armadora Premier Cruises, seguindo-se um longo período de imobilização arrestado em Barcelona que acabou em 2003 com a venda do navio a interesses indianos e a largada a 28-12-2003 para a China, com o nome BARCELONA e bandeira da Geórgia. O nosso antigo INFANTE DOM HENRIQUE foi desmantelado em Março - Maio de 2004 na Republica Popular da China.
Durante os três anos que permaneceu acostado ao molhe norte do porto de Barcelona aguardando que alguém novamente o pusesse a navegar pelos quatro cantos do mundo ou simplesmente o adquirisse para o tornar num ex-libris, nenhum interessado apareceu. Encontrava-se em excelentes condições podendo assim navegar por mais uns 40 anos, mas a má sorte bateu de vez à porta e resta-nos apenas recordá-lo com orgulho e muita saudade.
Ficha Técnica
Características:
Arqueação bruta - 23 306 toneladas
Comprimento - 195.5 metros
Boca - 24.5 metros
Lotação - 1 018 passageiros
Arqueação bruta - 23 306 toneladas
Comprimento - 195.5 metros
Boca - 24.5 metros
Lotação - 1 018 passageiros
Potência - 22000 Cv
Propulsão - 2 Grupos de Turbinas, 2 veios, Hélices de 4 pás
Velocidade de cruzeiro - 21 nós
Velocidade de cruzeiro - 21 nós
Construtor - Estaleiros John Cockeril, em Hobboken,
(fonte: "100 anos 100 barcos" Museu de Marinha, 2000)
Fases da vida do Navio
1961 - 1977
1988 - 1995
1995 - 2004
Ao meu amigo Alváro Forra...
Nove dias nesse grande navio em finais de 1974 quando tive de fugir de Angola mais a minha Mãe. Tinha 8 anos mas recordo-a como a viagem mais linda da minha vida.
ResponderEliminarO Infante Dom Henrique foi o primeiro navio em que embarquei. Eu e os meus pais saímos de Luanda em fins de Julho de 1965 para ir um mês de férias a Portugal. Eu fiz seis anos em Portugal. Foi uma viagem que nunca esquecerei e talvez as melhores memórias da minha infância. No Atlântico passámos muito perto dum navio de pesca russo em que eu me lembro de podermos ver os tripulantes desse barco a acenar um adeus. Acho que o primeiro porto de escala foi Las Palmas e depois o Funchal antes de chegarmos a Lisboa. Lembro-me que para anunciar o almoço a bordo tocavam a música “The Lion Sleeps Tonight”. Davam cinema no promenade deck. No restaurante punham manteiga em pedaçinhos em forma de uma concha, num pires.
ResponderEliminarAssim como o Queen Mary está ancorado permanentemente em Long Beach (California) e o Queen Elizabeth II está também agora em 2011 no Dubai, seria que também o Infante teria feito uma boa atração turistíca junto da marina em Belém? Pelo menos agora só espero que a Sagres não seja “consumida” também um dia na India...
Saudades!
Luis Manuel Antunes Luis
Fiz a mesma viagem, com a mesma idade. Fiz 6 anos em Novembro já "na metrópole". A viagem foi inesquecível, fizemos corridas de sacos, e dormimos em camarotes. Comprámos casacos em Las Palmas e passámos tb pelo Funchal, creio. O que mais me lembro era ... o cheiro a mar.
EliminarCoincidências
Olá,
ResponderEliminarTenho muitas saudades deste navio, até porque o vi nascer (Bélgica 1960/1961, nessa altura uma miúdinha)e que nos transportou até Lisboa. Sou filha de um Oficial que estave nesse navio e ainda por mais alguns anos.
Ainda tive a oportunidade de voltar a viajar nele em 1971, fazendo a viagem de Lisboa/Beira/Lisboa.
Saudações
Maria Teresa Freitas
Fiz a ultima viagem deste paquete entre Lourenço Marques de Lisboa ...... depois foi para Sines ...
ResponderEliminarLeónidas Moreira
Também embarquei nele em Lourenço Marques no dia 24 de Junho de 1975.
EliminarPois é "anónimo" , eu também fiz essa viagem, e a quase totalidade dos passageiros estavam vestidos de verde, passou por Luanda em 30 de Junho e atracou em Lx em 10 de Julho, sendo que ficou fundeado em Cascais de 9 para 10. Há isto tudo em 1975. Só eu por razões especiais embarquei 2 dias antes, coisas de $$$
ResponderEliminarEu foi tripolante desse lindo navio durante alguns anos e o rrcordo com saudades José alberto
ResponderEliminarsalao de festas
Eu gostaria de saber quais as cargas esse navio levava de Lisboa e seus portos de destino na África e também quais cargas e portos de embarque na África vinham na viagem a Lisboa. Nelson Carrera, Santos, Brasil.
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