terça-feira, 26 de abril de 2011

Reuniões entre Movimentos "alternativos" e a Troika do FMI

É falso que o MayDay Lisboa - que representa trabalhadores precários e movimentos alternativos - se reúna hoje com a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), a fim de poderem discutir a actual situação laboral em Portugal. André Albuquerque, daquele movimento, confirmou ao PÚBLICO que tudo não passou de "falsa reunião".

 "Tratou-se de uma falsa reunião. Não íamos mesmo ser recebidos pela troika e por isso fizemos a acção de manhã, frente ao ministério das Finanças", disse André Albuquerque, actor e uma das pessoas que dá a cara pelo movimento em Portugal.

André Albuquerque leu ao PÚBLICO a declaração feita hoje frente ao ministério, após a acção do movimento:

O MayDay Lisboa foi convocado pela troika que está em Portugal para conversações sobre a precariedade laboral, pelo que nos apresentámos esta manhã com uma pequena comissão de representantes do movimento.

O MayDay Lisboa ficou bastante surpreendido com a atitude da troika em relação às questões laborais, tendo havido um reconhecimento por parte da mesma que a injustiça a nível do trabalho se reflecte directamente na vida das pessoas.

Assim sendo a troika garantiu ao MayDay que vai encetar uma luta dura ao trabalho ilegal e precário, especialmente sob a forma dos falsos recibos verdes, contratos temporários contínuos e estágios não remunerados.

Afiançou ainda que vai combater o desemprego e primar por uma melhoria das condições de vida dos portugueses pois, segundo os senhores [Rasmus] Rüffer e [Massimo] Suardi, as economias têm como objectivo melhorar a vida das pessoas.

O sr. [Poul] Thomsen prometeu ao MayDay que haverá averiguações acerca das responsabilidades da dívida soberana distinguindo claramente a dívida privada da dívida pública. Consequentemente vão averiguar quanto é que o sector financeiro e a banca devem e intimá-los a pagar. O MayDay ficou ainda a saber que a troika vai propor políticas económicas progressistas no sentido de reduzir o medo e a incerteza que ocorrem no país, através da consolidação e reforço dos direitos fundamentais no trabalho e na vida.

Informaram-nos ainda que se foram necessários cortes salariais, estes far-se-ão apenas a nível dos cargos mais bem remunerados pela simples razão lógica que um corte num salário multimilionário é preferível a centenas de cortes em salários mais baixos, sem acarretar o peso social de prejudicar um número muito maior de pessoas que já vivem com menos possibilidades. O sr. Thomsen assumiu perante a troika a ideia de que o Serviço Nacional de Saúde não será destruído e que o dinheiro da Segurança Social e dos fundos de pensões não será usado para jogar nas bolsas.

Saímos, portanto, bastante optimistas desta reunião, estando o MayDay confiante nas promessas da troika e esperando que os resultados desta intervenção externa sejam tão benéficos para Portugal quanto têm sido para todos os países onde essa ajuda tem entrado.

Em retribuição pela gentileza de nos receberem, o MayDay convidou a troika a estar presente no Largo de Camões no dia 1 de Maio pelas 13h00.

Os senhores Thomsen, Rüffer e Suardi garantiram a sua presença no evento e pediram ao povo português para estar presente com a sua força e com as suas opiniões nas ruas de todo o país para que assim possa contribuir efectuar a democracia participativa e decidir o destino do país.

Esta reunião não aconteceu mas podia ter acontecido.


O MayDay é um protesto de trabalhadores precários que se realiza no 1º de Maio. A iniciativa começou em Milão em 2001 e, desde então, espalhou-se por várias cidades europeias e do Mundo. O MayDay Lisboa arrancou em 2007 e prepara reuniões semanais em Lisboa que, de acordo com André Albuquerque, têm tido uma afluência que tem variado entre as 20 e as 40 pessoas.


Atenção a estes movimentos "alternativos". Estejam atentos, a política (até a recente!) está cheia de gente que procura aparecer acima da política (como se isso fosse possível), sem objectivos partidários,como novidade mas que no fundo no fundo não são tanto assim. Na volta logo aparecem organizados, com os seus chefes a mandar, com uma organização que em nada, no plano organizativo, em nada se distingue das organizações políticas e sociais já existentes. Salvaguardando as devidas distâncias não se esqueçam do que se passou com o (...) Fernando Nobre.

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