sexta-feira, 25 de março de 2011

Estudo conclui que empresas públicas aumentam o número de contratações imediatamente antes e depois das mudanças de governo

Estudo conclui que empresas públicas aumentam o número de contratações imediatamente antes e depois das mudanças de governo.

"No jobs for the boys", foi a famosa tirada de António Guterres na primeira reunião da direcção do PS depois da vitória nas legislativas de 1995. O aviso tinha o objectivo de acalmar o apetite do aparelho socialista, afastado há dez anos do poder. No entanto, os números mostram que os boys não só têm um apetite insaciável, como sempre tiveram jobs. Os períodos imediatamente antes e depois de todas as eleições legislativas entre 1980 e 2008 foram aqueles em que as empresas públicas mais trabalhadores contrataram. "É evidente que são casos de compadrio ou nepotismo."

A conclusão é de Pedro Martins, professor de Economia Aplicada na Faculdade Queen Mary, da Universidade de Londres, que realizou o estudo. "Os nossos resultados indicam um impacto sistemático do ciclo político nos timings das empresas públicas em Portugal", diz o estudo. "Encontramos provas significativas de um grande aumento de contratações logo a seguir a um novo governo tomar posse, principalmente se for de uma cor política diferente (esquerda ou direita) do governo anterior. Além disso, as contratações tendem a aumentar antes de o novo governo tomar posse, independentemente do resultado das eleições."

A análise de Pedro Martins recua 30 anos e, segundo o investigador, é a primeira a provar empiricamente a existência deste tipo de fenómeno. Foram consideradas empresas públicas aquelas em que o Estado detém ou detinha pelo menos 50% do capital accionista. Para evitar que os resultados fossem influenciados pela evolução da economia ou por efeitos sazonais, as empresas privadas foram incluídas como grupo de controlo. As observações mostram que nestas empresas se assiste ao efeito contrário: uma mudança nos cargos de topo tem como resultado um abrandamento das contratações "porque a nova administração ainda se está a adaptar", diz.

Também segundo o estudo, nas empresas públicas, os contratados têm um ordenado em média 17% mais alto que nas privadas. São mais novos, com mais escolaridade e normalmente ocupam uma posição mais baixa na hierarquia. Ficam também mais tempo na empresa.

laranja? rosa? tanto faz Os dados mostram que pouco importa qual o partido no governo. Os jobs são de todos os que chegam ao poder. O aumento do número de contratados é transversal a PS e PSD, que lideraram o país nos últimos 30 anos, com a ocasional participação do CDS.

Os resultados - ver infografia em baixo - permitem observar picos de contratação cada vez que que o poder muda de cor. Perto do período eleitoral, "o número de contratações pode chegar a aumentar 50%", refere Pedro Martins ao i.

O efeito não se nota só em cargos de topo, onde a amostra é mais reduzida. É nas posições médias que se regista mais este fenómeno. Para o investigador, o impacto dos ciclos eleitorais nas empresas públicas é de tal forma significativo que é um dos factores que ajudam a explicar a "diferença de desempenho entre as empresas privadas e públicas". E deixa duas recomendações: limitar as contratações no período imediatamente anterior às eleições e aumentar a transparência. 
 

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