domingo, 13 de março de 2011

O Futuro da Geração à Rasca

Não tenho qualquer dúvida de que a esmagadora maioria das pessoas que ontem saíram à rua o fez espontaneamente, farta que está do país em que vive e do governo que ele tem. Não enjeito chamar-lhes, a essas pessoas, como o fez o José Manuel Fernandes, o «Portugal desesperado» (sugiro que deixemos o «algo» de lado), em contraponto aos «filhos do Boaventura» com que a Helena Matos as baptizou. Mas também não tenho dúvidas, como a Helena, de que a maior parte dos jovens que ali esteve se considera com direito natural a um emprego, mais do que isso, a um emprego não «precário» (este foi, aliás, um dos temas da manifestação), isto é, um emprego para a vida, como acontecia antigamente e as lei laborais ainda dizem proteger, sem quaisquer considerações adicionais, como, por exemplo, o mérito para o manter ou a possibilidade da empresa lho continuar a garantir. Isto significa que a esmagadora maioria das pessoas que foram à manifestação e os muitos outros portugueses que, não tendo ido, partilham do mesmo sentimento de revolta, não perceberam o que lhes está a suceder e, não entendendo por que razão se encontram no estado em que estão, jamais conseguirão sair dele.


É natural que isto assim aconteça. A III República, a que se iniciou há 40 anos com o Marcelismo e de que o 25 de Abril foi uma mera aceleração inevitável por causa da guerra do Ultramar, fundou-se sobre os esteios da mentira, da inveja e do privilégio, isto é, sobre os paradigmas do socialismo marxista da luta de classes. As pessoas «aprenderam», sendo-lhes dito pelos seus governantes, que tinham direito a um mundo em que tudo o que lhes fosse essencial (sendo o conceito latíssimo) lhes seria dado, sem encargos, bastando, para tanto, acreditar na bondade das intenções de quem os governava e na justeza das suas «políticas». A mecânica era simples e também lhes foi «explicada»: os pobres só eram pobres, porque os ricos eram ricos. Logo, indo buscar alguma coisa aos ricos, desapareceriam os pobres. Sobre isto criou-se um mundo de privilégios: reformas aos 40 e poucos anos, por vezes acumulando duas e três simultâneas, pessoas com rendimentos médios e elevados a estudarem de graça e a beneficiarem de cuidados médicos gratuitos, toda a espécie de «garantias» laborais e de «direitos» do empregado face ao empregador, serviços públicos de toda a espécie, etc.

É devido a essa «racionalidade» social, que ainda hoje vemos e ouvimos toda a espécie de pessoas – desde os protagonistas políticos, aos anónimos comentadores da blogosfera – afirmar que a culpa deste estado de coisas é dos «ricos», dos tais que «estão cada vez mais ricos» e que a coisa só se resolve indo buscar-lhes o dinheiro para sustentar os mais pobres. Isto é, obviamente, o que qualquer governo quer ouvir, porque legitima os aumentos de impostos que tanto jeito lhes dá. Mas vou dizer-lhes uma coisa: não há mais «ricos» em Portugal. Infelizmente não os há. E, se os houvesse, ganharíamos todos com isso, porque a riqueza não é um conceito estático e suspenso no vácuo: ou se aplica, gerando emprego e prosperidade, ou desaparece. Portugal não tem «ricos» em abundância, não tem uma classe média próspera, que viva bem e que possa aspirar a viver ainda melhor. O que Portugal tem, tem muitos e feito cada vez mais, são pobres.

O que sucedeu a Portugal foi que estes 40 anos de privilégios empobreceram o país, sugaram-lhe os recursos, descapitalizaram as suas empresas, destruíram a classe média e reduziram os «ricos» a dois ou três figurões da célebre lista da Forbes, que servem ainda hoje de espantalhos para atiçar o ódio às multidões e desviar as atenções do que verdadeiramente está em causa. Quem destruiu a economia portuguesa não foram estes «ricos». Foi o estado, foram os seus sucessivos governos, a racionalidade do privilégio legal e não meritório, a voracidade com que rapinaram o nosso dinheiro e a nossa propriedade em troca de um mundo ideal que, não só nunca chegou, como é cada vez mais árduo e pior do que aquele em que vivíamos no dia anterior.

Se a «Geração à Rasca» continuar sem entender isto, se persistir em pensar que Portugal tem uma imensa riqueza escondida nos bolsos de meia-dúzia de capitalistas malfeitores, se se achar mesmo com direito a um emprego não precário, se não perceber que, por definição, tudo na vida é precário e que só o esforço e o mérito nos poderão dar melhores condições de vida, se continuar a pedir ao governo e ao estado uma vida melhor, em vez de lhes pedir que a deixem viver sem o peso asfixiante do seu paternalismo doentio e castrador, então, Portugal baterá ainda mais no fundo e o «à rasca» de hoje será um sonho de felicidade e abundância de um amanhã muito próximo.

Sem comentários:

Enviar um comentário