sexta-feira, 15 de abril de 2011

Leitura obrigatória

Envergonhado, sou forçado a reconhecer que desconhecia este presciente artigo do em boa hora regressado Bruno Maçães. O artigo é de 21/01/08. A crise ainda era essêncialmente um problema americano e o "modelo europeu" era apontado como o novissimo fim da História.

"Distribuídas por uma dezena de países a sul e a leste, as vulnerabilidades da economia europeia, da especulação imobiliária e cambial ao descontrolo das contas públicas, são uma ameaça grave, sobretudo porque causarão uma aceleração súbita dos problemas quando eles começarem. Alguém dizia recentemente que a próxima crise de dívida ocorrerá num de três países do sul da Europa e não, como se poderia pensar, num mercado emergente.(...) A fragmentação orçamental dentro da mesma zona monetária encoraja a despesa pública e o fomento da procura, pelo que as taxas de juro têm de ser mantidas artificialmente altas. (...) Mas os problemas de acção colectiva não ficam por aqui. Numa economia de mercado os custos do trabalho por unidade de produção deveriam convergir. Talvez a zona euro não seja uma economia de mercado, porque a verdade é que esses custos são hoje 10% inferiores à média na Alemanha e 20% superiores em Portugal. Stefan Collignon elaborou um gráfico surreal mostrando que esta diferença tem vindo a aumentar consideravelmente nos últimos anos. As economias alemã e portuguesa já não podem conviver no mesmo espaço por muito mais tempo. Em breve teremos de enfrentar uma escolha difícil. Admitindo que a situação actual provocaria uma desindustrialização profunda, teremos de optar entre a transferência radical de soberania económica para as instituições europeias ou o abandono da zona monetária." Imagino a indignação que provocou na altura.
 

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