Os insurrectos armados são seres virtuosos, amantes da liberdade, dizem-nos as grandes potências ocidentais. Só derrubando o líder histórico se alcançará a democracia e o progresso na Líbia, dizem-nos as grandes potências ocidentais. Só uma intervenção militar estrangeira, a cargo das grandes potências ocidentais, garantirá a segurança das tribos e a paz, dizem-nos as grandes potências ocidentais. O que as grandes potências ocidentais não nos dizem é sobre as suas reais motivações. Petróleo é o nome do jogo.
Khadafi é um ditador? Sim, sem dúvida, tal como todos os dirigentes supremos do mundo árabe. Só Marrocos e o Líbano, por via de uma proximidade histórica e cultural mais acentuada com a Europa, exibem indicadores de autocracia algo abaixo do comum. No espectro mais largo do mundo muçulmano, o Irão, o Paquistão e a Indonésia não são exemplos que se recomendem. A Turquia, esperemos, poderá ser um caso à parte, se o legado de Ataturk não for desbaratado pela deriva fundamentalista.
Khadafi é exuberante e imprevisível? Sim. Na exuberância e noutras coisas não andará longe de Berlusconi, nos ziguezagues dos alinhamentos internacionais pós-guerra fria pede meças à generalidade dos líderes dos países ditos emergentes. Tem culpas em actos terroristas? Muito provavelmente. Condenável? Sem margem para dúvidas. Tanto quanto as grandes potências ocidentais pelas inúmeras atrocidades cometidas em nome de valores que só um juízo benevolente e dúbio poderá justificar. Não me esqueço do rebentamento do Rainbow Warrior perpetrado pelos serviços secretos franceses (em que um português perdeu a vida), para não falar dos actos de barbárie cometidos por tropas americanas em cenários bem recentes. Não me falem em supremacias morais, em valores inquestionáveis e coisas quejandas, uma atrocidade é uma atrocidade. Ponto final.
E a Líbia, é um "mau" país? No mundo árabe, não. Possui índices educacionais, de esperança de vida e de rendimento per capita acima da média. O fundamentalismo islâmico está contido, o grau de participação das mulheres na vida social é elevado, não se conhecem casos de decepação de membros por roubo nem de lapidação por adultério, ao contrário do que se passa nos países do Golfo, onde imperam os interesses petrolíferos das grandes potências ocidentais, sem ponta de recriminação quanto aos costumes e às práticas de justiça, bárbaras e medievais, que por lá se praticam. Na Península Arábica, onde as mulheres não têm sequer direito a carta de condução e a Al-Qaeda medra, as grandes potências ocidentais não vêem tiranos nem se preocupam com valores "civilizacionais".
Não, não é o déspota Khadafi, nem os alegados ataques dos seus exércitos sobre a população civil (não confundir com civis insurrectos armados, coisa bem diferente), que justificam os bombardeamentos de franceses e ingleses. O motivo é outro, bem mais prosaico.
Dias antes da intervenção militar das grandes potências ocidentais, Khadafi havia declarado que, face às ameaças externas, a Líbia se preparava para abrir concessões petrolíferas a russos e a chineses. É uma curiosa coincidência com as semanas que antecederam a infeliz intervenção militar norte-americana no Iraque. Sadam havia então declarado que as exportações iraquianas de crude iriam passar a ser denominadas em euros, em vez de dólares.
Dentro de meses, quando o ditador Khadafi já tiver sido deposto, a Irmandade Muçulmana tiver alcançado o poder no Egipto, a Itália a transbordar de exilados árabes (egípcios, líbios e tunisinos), a laicidade da Argélia de novo ameaçada pela FIS e os interesses das companhias petrolíferas ocidentais reforçados na região, veremos como os "mártires da liberdade" se comportam. Oxalá me engane.
Khadafi é um ditador? Sim, sem dúvida, tal como todos os dirigentes supremos do mundo árabe. Só Marrocos e o Líbano, por via de uma proximidade histórica e cultural mais acentuada com a Europa, exibem indicadores de autocracia algo abaixo do comum. No espectro mais largo do mundo muçulmano, o Irão, o Paquistão e a Indonésia não são exemplos que se recomendem. A Turquia, esperemos, poderá ser um caso à parte, se o legado de Ataturk não for desbaratado pela deriva fundamentalista.
Khadafi é exuberante e imprevisível? Sim. Na exuberância e noutras coisas não andará longe de Berlusconi, nos ziguezagues dos alinhamentos internacionais pós-guerra fria pede meças à generalidade dos líderes dos países ditos emergentes. Tem culpas em actos terroristas? Muito provavelmente. Condenável? Sem margem para dúvidas. Tanto quanto as grandes potências ocidentais pelas inúmeras atrocidades cometidas em nome de valores que só um juízo benevolente e dúbio poderá justificar. Não me esqueço do rebentamento do Rainbow Warrior perpetrado pelos serviços secretos franceses (em que um português perdeu a vida), para não falar dos actos de barbárie cometidos por tropas americanas em cenários bem recentes. Não me falem em supremacias morais, em valores inquestionáveis e coisas quejandas, uma atrocidade é uma atrocidade. Ponto final.
E a Líbia, é um "mau" país? No mundo árabe, não. Possui índices educacionais, de esperança de vida e de rendimento per capita acima da média. O fundamentalismo islâmico está contido, o grau de participação das mulheres na vida social é elevado, não se conhecem casos de decepação de membros por roubo nem de lapidação por adultério, ao contrário do que se passa nos países do Golfo, onde imperam os interesses petrolíferos das grandes potências ocidentais, sem ponta de recriminação quanto aos costumes e às práticas de justiça, bárbaras e medievais, que por lá se praticam. Na Península Arábica, onde as mulheres não têm sequer direito a carta de condução e a Al-Qaeda medra, as grandes potências ocidentais não vêem tiranos nem se preocupam com valores "civilizacionais".
Não, não é o déspota Khadafi, nem os alegados ataques dos seus exércitos sobre a população civil (não confundir com civis insurrectos armados, coisa bem diferente), que justificam os bombardeamentos de franceses e ingleses. O motivo é outro, bem mais prosaico.
Dias antes da intervenção militar das grandes potências ocidentais, Khadafi havia declarado que, face às ameaças externas, a Líbia se preparava para abrir concessões petrolíferas a russos e a chineses. É uma curiosa coincidência com as semanas que antecederam a infeliz intervenção militar norte-americana no Iraque. Sadam havia então declarado que as exportações iraquianas de crude iriam passar a ser denominadas em euros, em vez de dólares.
Dentro de meses, quando o ditador Khadafi já tiver sido deposto, a Irmandade Muçulmana tiver alcançado o poder no Egipto, a Itália a transbordar de exilados árabes (egípcios, líbios e tunisinos), a laicidade da Argélia de novo ameaçada pela FIS e os interesses das companhias petrolíferas ocidentais reforçados na região, veremos como os "mártires da liberdade" se comportam. Oxalá me engane.
Luis Nazaré
Economista; Professor do ISEG
IN: Negócios Online
Nota do Faro é Faro:
Tal como já tinha acontecido no iraque... o petróleo é o que fala mais alto.
Era ve-los aos abraços, era viagens pagas até a Libia para passar ferias, iates, aviões, era presentes, almoços, enfim...
De um momento para o outro... já era o maior vilão da historia...
Sem comentários...
Cumprimentos Cordiais
Luis Passos
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