sexta-feira, 26 de novembro de 2010

UAlg e Cineclube de Faro promovem “Desassossego” literário e cinematográfico

O Livro do Desassossego de Fernando Pessoa vai ser debatido numa mesa-redonda, às 18h00 de hoje, no Club Farense, em Faro.



Este evento conta com a participação do realizador João Botelho, de Richard Zenith, um dos maiores especialistas pessoanos, estando a moderação a cargo de João Minhoto Marques, docente da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS) da Universidade do Algarve.

Mais tarde, às 21h00, no Grande Auditório da Universidade do Algarve, no Campus de Gambelas, será projectado “O Filme do Desassossego”, a mais recente obra cinematográfica de João Botelho.

Esta dupla iniciativa resulta de uma parceria entre a UAlg e o Cineclube de Faro.


Sobre a mesa-redonda Livro do Desassossego, Richard Zenith

Richard Zenith é um freelancer que se dedica à escrita, à investigação e à tradução. Especialista em Fernando Pessoa, os seus trabalhos mais recentes neste domínio incluem o texto de Fotobiografias – Século XX: Fernando Pessoa (Círculo de Leitores/ Temas e Debates 2008), a organização do Livro do Desassossego (8.ª ed., Assírio & Alvim, 2009) e a co-curadoria da exposição Fernando Pessoa: Plural Como o Universo (Museu da Língua Portuguesa, São Paulo, 2010).

Na introdução à primeira edição do Livro do Desassossego, Richard Zenith refere: «o que temos aqui não é um livro mas a sua subversão e negação, o livro em potência, o livro em plena ruína, o livro-sonho, o livro-desespero, o anti-livro, além de qualquer literatura. O que temos nestas páginas é o génio de Pessoa no seu auge».

Já na oitava edição, o Livro do Desassossego continua a surpreender Richard Zenith. «O que mais me espanta e atrai no Livro do Desassossego é, por um lado, a candura de expressão da alma que se auto-descreve - alma que é de Bernardo Soares, de Fernando Pessoa e de nós próprios, os leitores do livro e, por outro, «a poeticidade e a precisão daquela prosa ímpar. Lendo os trechos em voz alta é que se percebe essa qualidade poética, por exemplo, na cadência das frases e nos efeitos sonoros».

«Pessoa defendia que um espírito livre, uma inteligência viva, seria naturalmente flexível, mudando de opinião e de ponto de vista ao invés de ficar entrincheirado sempre nas mesmas ideias”. Para Fernando Pessoa, «a norma é que não existem normas nenhumas». Como especialista pessoano, Zenith contorna essa aparente contradição da seguinte maneira: «tento acompanhar este espírito livre que era Pessoa, explorando o seu vasto ser, sem tentar enquadrá-lo ou explicá-lo de modo "definitivo". Eu próprio, vou assumindo pontos de vista diferentes, realçando ora uma, ora outra faceta do poeta e da sua obra».


Sobre o Filme do Desassossego:

«É impossível filmar o Livro do Desassossego, “diziam-me todos”. Talvez – “disse eu”-, mas a partir de um texto que não tem tempo, não tem fim, não tem igual, foi-me possível criar um filme do desassossego que não pretende ser o livro (outra coisa é o cinema, que não arte literária); não em nome da experimentação ou da artística diletância, mas em nome do cinema que eu amo acima de tudo, e da língua, que é também a minha pátria», refere João Botelho na sua nota de intenção sobre o filme. Esta adaptação ao Cinema trata-se, assim, de uma adaptação pessoal e crítica do Livro do Desassossego.

Segundo Anabela Moutinho, do Cineclube de Faro, «esta sessão de cinema preenche uma lacuna previamente existente, já que a capital algarvia não faz parte da lista de distribuição do filme». Saliente-se que este filme não terá exibido em salas comerciais.


Sobre João Botelho:

João Botelho inicia-se na realização com duas curtas-metragens para a RTP e com o documentário de longa-metragem “Os Bonecos de Santo Aleixo” para a Cooperativa Paz dos Reis. Os seus filmes já foram premiados nos festivais de Figueira da Foz, Antuérpia, Rio de Janeiro, Veneza, Berlim, Salsomaggiore, Pesaro, Belfort, Cartagena, etc. Foi distinguido por duas vezes com o prémio da OCIC, da Casa da Imprensa e dos Sete de Ouro. Todas as suas longas-metragens tiveram exibição comercial em Portugal, quase todas em França e algumas em Inglaterra, na Alemanha, em Itália, em Espanha e no Japão. Teve retrospectivas integrais em Bergamo (1996), com edição de uma monografia sobre a obra, e em La Rochelle (1998). A Comenda da Ordem do Infante, de mérito cultural, foi ainda uma distinção que obteve em 2005.


Os bilhetes para o filme podem ser adquiridos no Cineclube de Faro (ao lado da Zara), nos seguintes horários:
Das 10h30 às 12h30 e das 14h30 às 17h30, segunda, terça, quarta e sexta-feira e nas sessões do IPJ, segunda-feira às 21h30.

As reservas podem feitas através do e-mail ccf@cineclubefaro.com ou do telefone 289 827 627.


Ademar Dias

In: Algarve noticias

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