terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pobreza em Faro: Ou tratamos dela... ou ela trata de nós!!!


Em 2003, Ana Alexandra Santos, de 22 anos, vivia numa pequena barraca na Horta da Areia, bairro periférico de Faro, com o marido e um bebé de sete meses. Os buracos no telhado deixam passar frio e chuva. “Isto é uma miséria. Nem posso dar banho à criança”, lamenta. O filho, André Filipe, que durante todo o dia apenas se alimenta com o leite materno, foi hospitalizado aos três meses devido a uma broncopneumonia, doença que Alexandra associa às condições precárias em que vive a família.

“O rendimento mínimo pouco ultrapassa os 100 euros por mês, o que não dá para nada, nem para as fraldas”, queixa-se. Face à miséria que afecta este agregado familiar, Alexandra deixa um alerta: “Era bom que a Câmara nos desse uma casinha, comida e cobertores, É a saúde do meu filho que está em risco.”

A Horta da Areia é um dos bairros da capital algarvia onde se concentra um maior foco de pobreza. No entanto, também no sítio de Lejana de Cima, em plena zona de expansão urbana, várias famílias ciganas vivem em precárias condições de habitabilidade. No total, estão referenciados, no concelho, 719 casos de pobreza, 250 dos quais localizados na Horta da Areia.

A Câmara Municipal de Faro prometeu-lhes ajuda. Prometeu-lhes casas novas, prometeu-lhes agasalhos e comida. Passados 7 anos, tudo está rigorosamente na mesma.

“Antes de darmos casas às pessoas, há que adquirir terrenos, o que é um processo demorado, e só depois construí-las. Não se pode esperar a solução ideal para fazer alguma coisa, porque, se não acontece o que está à vista, as pessoas continuam a viver nestas condições degradantes”, justificava José Vitorino. O projecto dos Braciais nem chegou a sair do papel.

UM CAFÉ E UMA FATIA DE PÃO

Em 2003, na casa de Maria de Fátima dos Santos Boguinha havia 12 pessoas – mas a casa era apenas uma. Maria de Fátima, de 41 anos, vivia há onze na Horta da Areia, onde partilha três quartos com marido, filhos e netos. “Isto não é uma casa, é só um bocado de platex com umas chapas por cima. Há ratos por todo o lado e o frio congela-nos os ossos”, denunciou.
 
Onde está esta senhora em 2010? Será que foi realojada? Será que ainda lá vive! Temo bem que sim! 

COBRAS E RATAZANAS

Há meio século que Marcelina Zanibita conhece de perto os dissabores da vida. Mora há mais de duas décadas numa casa sem janelas nem portas interiores, a qual partilha com o marido e um filho. “Queremos governar vida e não podemos. O nosso presidente disse que vinha arranjar as casas, mas ainda não fez nada, embora esteja tudo a cair”, queixa-se a mulher, que lamenta ainda a falta de recursos para cuidar da saúde, que “também que já não é muita”.

Ferida na mão direita, diz que nem para ir à farmácia “aviar uma receita” tem dinheiro, embora o médico a tivesse avisado dos perigos. “Se não tomo os remédios fico sem a mão, mas não tenho um tostão para nada! Quero comprar os remédios e não posso”, lamentava-se.

A casa onde viveu tinha três quartos, cozinha, casa de banho e sala, mas todas sem qualquer funcionalidade. Para além de exíguas, às divisões falta o equipamento necessário. “Nem sanita temos. Isto é uma desgraça e está tudo partido. Aqui só há cobras e ratazanas. Não podemos considerar isto uma casa”, criticava Marcelina, que, de vez, em quando vende no mercado “umas peças de roupa para ganhar algum” e sobreviver.

“Há dias em que não se vende nada. Temos uma carrinha mas está ali com as rodas vazias”. O pouco que o casal recebia com as vendas “dáva para o comerzinho” e não era sempre. Durante dias inteiros, Marcelina apenas sentia o sabor do café que bebia pela manhã. “Ainda ontem passei o dia inteiro sem comer nada”, contava. É que o pão, quando não era fiado ou oferecido pelo padeiro, não entrava em casa.

Como será que está a Marcelina Zanibita hoje, oito anos volvidos??? Muito provavelmente estará em situação identica, dado que nestes ultimos anos pouco ou nada se fez em Faro em termos de habitação social, e pouca ajuda a edilidade deu a quem mais precisa.

BARRACA EMPRESTADA…

Maria Orlanda Martins tinha 28 anos e era mãe de cinco filhos. A família viveu debaixo de uma árvore, coberta por uma lona, nunca no mesmo lugar, mas sempre nas imediações do centro de saúde. “É uma vida difícil, pois a Polícia manda-nos sempre embora”, dizia. Ultimamente Maria Orlanda tem estado albergada numa barraca emprestada, na Lejana de Cima. “Uns amigos ciganos, que agora não estão cá, tiveram pena de mim e meteram-me aqui com as crianças. Estou aqui uns dias, até que os donos voltem”, revelava a mulher, preocupada por não ter onde pôr a dormir os filhos, com idades compreendidas entre os dois e os 14 anos.

“Ainda ontem vim do hospital com o meu filho mais novo, que tem uma infecção no pulmão por causa do frio”, contava Maria Orlanda, beneficiária do rendimento mínimo. Por mês recebe 350 euros, quantia que, garante, não chega para sustentar a família. “Só nos medicamentos gasto quase todo o dinheiro, sobretudo para o bebé, que tem uma bronquite”, revelava. O marido de Maria Orlanda não trabalha, porque “não lhe dão emprego”, alegou. No Verão trabalhava nas estufas. Mas há dias em que os membros mais velhos da família não comiam. Passavam fome.

Que terá acontecido a esta dona Maria Orlanda, e quantas Marias Orlandas ainda haverá na nossa cidade de Faro? 





…OU CARRO EMPRESTADO

Telma dos Santos, 20 anos, dormia em 2003 com o marido e a filha de 18 meses “dentro de um carro emprestado”, porque na tenda que lhes servia de abrigo o chão era feito de terra e pedras. Na vizinhança não conseguiam um quarto, pois todos apresentam “miséria a mais” para possibilitar essa ajuda. “Faz muito frio. Quando chove a tenda fica toda molhada porque a água entra e não conseguimos estar cá dentro”, referia a jovem.

O marido costumava apanhar marisco para vender, mas nem sempre consegue trazer dinheiro suficiente para sustentar a casa. “Eu queria ir com ele mas não posso. A minha menina está quase sempre no hospital. Ainda há poucos dias esteve internada, porque apanhou uma broncopneumonia aqui, por causa do frio. Vivemos muito mal”, queixava-se a mulher, que recebia 175 euros por mês do rendimento mínimo. A comida para a filha, Érica, era o mais importante. Essa tentavam que nunca faltesse, nem que o casal tenha de passar alguma fome, reconhece Telma dos Santos. “Quando está bom tempo ainda podemos comer e dormir na tenda, mas quando chove isto é um rio, não podemos estar cá dentro, as nossas coisas, que já são poucas, molham-se todas”, diz com tristeza. “Estou a viver muito mal. Recolhem tantas pessoas com mais do que eu, também me podiam recolher a mim”, solicitava, esperançada numa das novas casas então prometidas pela Câmara.
 
Passados estes anos, em 2009 o apolinário aparecia prometendo as novas casas, foram construidas as habitacoes a custos controlados para vender, mas foram so 144 fogos que pessoas deste nivel de pobreza nao poderiam pagar, na Avenida Gulbekian.

E estas pessoas com este nivel de pobreza estrema? A Caritas está a ponderar abrir com caracter de urgência um refeitório para atender a pobreza em Faro, li no Jornal de Noticias, dado o elevado numero de pessoas em situação de pobreza extrema.
 
Será que não seria de o Eng. Macário neste Natal ponderar uma operação especial de Natal para dar a estas pessoas uma dignidade especial, neste periodo de crise???
 
Ou ainda, manter as cantinas das escolas primárias abertas, para que estas pessoas de baixos recursos tenham direito pelo menos, a uma refeição quente, a semelhança do que Rui Rio vai implementar no Porto?
 
Eu nao me importava nada de trocar a porcaria da iluminação de Natal, para que algumas pessoas pudessem ter um Natal com mais dignidade. Fica aqui o repto para o ano... este ja não, que alguem ja ganhou o dinheiro... 
 
Triste cidade esta... que dá mais valor à aparencia do que aliviar quem sofre.
 
 
Cumprimentos cordiais 
 
Luís Passos 
 
 

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