sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O homem que todos querem ver pelas costas



Mas na verdade o homem de quem todos dependem. Falo de José Sócrates naturalmente. O PS vive na esperança que o PSD ou o PR façam aquilo que em devido tempo o PS não fez: criar uma situação que leva à saída de Sócrates de cena. Infelizmente para o PS agora é tarde: as alternativas à liderança de José Sócrates foram empalidecendo de cada vez que o PS se tornou cúmplice do indefensável e disse sim ao que bem sabe que devia ter dito não.

Sócrates é ignorantíssimo, fútil, não tem sentido de Estado e tomou decisões na sua vida académica, profissional e política que a maior parte dos portugueses, até o conhecerem como primeiro-ministro, repudiaria liminarmente. Mas tem uma noção agudíssima do poder. Enquanto o exerceu de facto transformou o aparelho de Estado na sua máquina e fez de cada português um dependente do Estado.

Continua a fazê-lo agora, quando já não se pode dizer que exerce o poder porque neste momento trata sim ou de arranjar uma situação que lhe permita sair condignamente ou de conseguir uma legitimidade reforçada no cargo de primeiro-ministro.

José Sócrates começou por dizer que se demitiria caso o Orçamento fosse chumbado. Qualquer primeiro-ministro de um governo minoritário em Portugal sabe que pode ter um orçamento chumbado. Até agora José Sócrates nem sequer se deu ao trabalho de explicar essa sua decisão. Aceita-se como natural. E nele é natural. Este é um exemplo. Mas podem arranjar-se centenas deles.

Em tempos de crise homens assim transmitem uma imagem de segurança que não é irrelevante quando se sabe que se têm de ganhar eleições e sobretudo enfrentar forte contestação. Certamente que muitos desejariam ver Sócrates pelas costas. Mas são ainda mais aqueles que no seu partido e fora dele temem o vazio que essa ausência poderia gerar.

In: Publico 22/10/2010

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