quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O paquete Santa Maria

A livraria Pátio das Letras vai promover dia 2 de Outubro, Sábado, o lançamento do livro "Eu roubei o Santa Maria", de Jorge SoutoMaior, oficial galego que comandou o assalto. A apresentação é de José António Barreiros e conta com a presença de Camilo Mortágua.

Para os mais curiosos, deixo-vos aqui informação técnica sobre o navio e alguma memorablia.

SANTA MARIA

TipoNavio de passageiros de 2 hélices
ConstrutorSociété Anonyme John Cockerill
Local construçãoHoboken - Bélgica
Ano de construção1952
Ano de abate1973
RegistoCapitania do porto de Lisboa, em 9 de Novembro de 1953, com o número H 421
Sinal de códigoC S A L
Comprimento fora a fora185,60 m
Boca máxima23,09 m
Calado à proa8,41 m
Calado à popa8,41 m
Arqueação bruta20.906,31 Toneladas
Arqueação Líquida11.876,67 Toneladas
Capacidade5.495 m3
Porte bruto7.716 Toneladas
Aparelho propulsorDois grupos de turbinas, construídos em 1953 pela Société Anonyme John Cockeryll, em Seraing, Bélgica. Seis caldeiras, para 32 K/cm2 de pressão.
Potência25.500 cavalos
Velocidade máxima22 nós
Velocidade normal20 nós
PassageirosAlojamentos para 8 em classe de luxo, 148 em primeira classe, 226 em segunda classe, 200 em terceira e 600 em terceira suplementar, no total de 1182 passageiros.
Tripulantes293
ArmadorCompanhia Colonial de Navegação - Lisboa

Fotos

Foto 1 - Port Everglades, Florida (Estados Unidos)
Foto 2 - Port Everglades, Florida (Estados Unidos)

Foto 3 - Santa Maria em Lisboa

Foto 4 - Santa Maria no Funchal
Foto 5 - Santa Maria no Funchal
Foto 6 - Bar de 1ª Classe
 O ASSALTO AO SANTA MARIA

"Em Janeiro de 1961 deu-se o assalto ao paquete "Santa Maria", incidente que na época notabilizou a contestação ao Governo de Oliveira Salazar, e introduziu a prática, depois muito difundida internacionalmente, de sequestrar navios e aviões com fins políticos.
O "Santa Maria" havia largado de Lisboa a 9 de Janeiro de 1961 em mais uma das suas viagens regulares à América Central, fazendo escala no porto venezuelano de La Guaira no dia 20. Entre os passageiros embarcados neste porto, contava-se um grupo de 20 membros da DRIL - Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação, organismo constituido por opositores aos regimes de Franco e Salazar, cujo comandante era o capitão Henrique Galvão, que embarcou clandestinamente no "Santa Maria" um dia depois, em Curaçau, com mais três elementos da DRIL. Galvão estava exilado na Venezuela desde Novembro de 1959, e em Julho de 1961 havia concluído os planos de assalto ao "Santa Maria". Fora escolhido este paquete por ser muito superior aos diversos navios de passageiros espanhóis que na altura faziam a carreira da América Central. O capitão Galvão pretendia deslocar-se no "Santa Maria" até à colónia espanhola de Fernando Pó, no golfo da Guiné, cuja tomada permitiria em seguida efectuar um ataque a Luanda e iniciar, a partir de Angola, o derrube dos Governos de Lisboa e de Madrid.
Horas depois da largada de Curaçau, o "Santa Maria" navegava rumo a Port Everglades, na Florida, com 612 passageiros e 350 tripulantes, sob o comando do capitão da Marinha Mercante Mário Simões da Maia, quando, precisamente à 1 hora e 45 minutos da madrugada de 22 de Janeiro de1961, os 24 homens de Henrique Galvão tomaram conta da ponte de comando e da cabine de TSF, dominando os oficiais do navio. O terceiro piloto João José Nascimento Costa ofereceu resistência aos assaltantes e foi morto a tiro. Pouco depois, o "Santa Maria" alterou o rumo para leste, procurando alcançar rapidamente o Atlântico. A 23 de Janeiro, o navio aproximou-se da ilha de Santa Lúcia e desembarcou, numa das lanchas a motor, 2 feridos graves com 5 tripulantes, comprometendo a possibilidade de atingir a costa de Africa sem ser detectado. No dia 25, o paquete cruzou-se com um cargueiro dinamarquês, traindo a sua posição, o que permitiu a um avião norte-americano localizar o "Santa Maria" horas depois. Finalmente a 2 de Fevereiro o "Santa Maria" fundeou no porto brasileiro do Recife, procedendo ao desembarque dos passageiros e tripulantes. Chegou a ser considerado o afundamento do paquete, mas no dia seguinte os rebeldes entregaram-se às autoridades brasileiras, obtendo asilo político, ao mesmo tempo que o "Santa Maria" voltava à posse da Companhia Colonial de Navegação.
Os passageiros do paquete assaltado foram transferidos para o "Vera Cruz", que saiu do Recife a 5 de Fevereiro, chegando a Lisboa a 14 do mesmo mês, após escalar Tenerife, Funchal e Vigo. Por sua vez o "Santa Maria" largou do Recife a 7 de Fevereiro, entrando no Tejo, embandeirado em arco, a 16 e atracando a Alcântara...
... Independentemente dos aspectos políticos que na altura rodearam o caso "Santa Maria", este incidente acabou por fazer do navio o mais famoso dos paquetes portugueses. Embora o "Infante D. Henrique" e o "Príncipe Perfeito" fossem mais recentes, o "Santa Maria" era um navio de prestígio por excelência, situação a que não era estranho o facto de ser o único navio de passageiros português a manter uma ligação regular entre Portugal e os Estados Unidos da América.
Coincidindo com o desvio do "Santa Maria", deflagraram a 4 de Fevereiro, em Luanda, incidentes graves, seguidos, em Março, do começo da guerra no Norte de Angola. O Governo de Lisboa decidiu enfrentar a situação, enviando a partir de Abril ràpidamente e em força importantes reforços militares. Esta decisão implicou, de imediato, a requisição de diversos paquetes e navios de carga afretados pelo Ministério do Exército para efectuarem o transporte de tropas e material de guerra. A utilização esporádica para este fim de navios de passageiros portugueses vinha já do século XIX, passando a partir de 1961 a constituir uma das principais ocupações permanentes dos paquetes portugueses...









in Paquetes Portugueses de Luis Miguel Correia






Foto 7 - O Santa Maria a chegar depois do assalto
Foto 8 - O Santa Maria a chegar depois do assalto










4 comentários:

  1. Grata pela menção à apresentação do livro, acabadinho de publicar. Apenas uma precisão: o seu autor não é Camilo Mortágua e sim JORGE SOUTOMAIOR, o operacional galego que comandou o assalto - informação disponível em
    http://espacodememoria-patiodletras.blogspot.com

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  2. Grato pela correção. É um prazer divulgar.

    Se poder... lá estarei!

    Cumprimentos cordiais

    Luis Passos

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  3. Uma história épica. O Capitao Galvao fez o papel dum moderno D. Quixote.

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  4. O capitao Galvao : um moderno D. Quixote.

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