A livraria Pátio das Letras vai promover dia 2 de Outubro, Sábado, o lançamento do livro "Eu roubei o Santa Maria", de Jorge SoutoMaior, oficial galego que comandou o assalto. A apresentação é de José António Barreiros e conta com a presença de Camilo Mortágua.
Para os mais curiosos, deixo-vos aqui informação técnica sobre o navio e alguma memorablia.
SANTA MARIA
Tipo | Navio de passageiros de 2 hélices |
Construtor | Société Anonyme John Cockerill |
Local construção | Hoboken - Bélgica |
Ano de construção | 1952 |
Ano de abate | 1973 |
Registo | Capitania do porto de Lisboa, em 9 de Novembro de 1953, com o número H 421 |
Sinal de código | C S A L |
Comprimento fora a fora | 185,60 m |
Boca máxima | 23,09 m |
Calado à proa | 8,41 m |
Calado à popa | 8,41 m |
Arqueação bruta | 20.906,31 Toneladas |
Arqueação Líquida | 11.876,67 Toneladas |
Capacidade | 5.495 m3 |
Porte bruto | 7.716 Toneladas |
Aparelho propulsor | Dois grupos de turbinas, construídos em 1953 pela Société Anonyme John Cockeryll, em Seraing, Bélgica. Seis caldeiras, para 32 K/cm2 de pressão. |
Potência | 25.500 cavalos |
Velocidade máxima | 22 nós |
Velocidade normal | 20 nós |
Passageiros | Alojamentos para 8 em classe de luxo, 148 em primeira classe, 226 em segunda classe, 200 em terceira e 600 em terceira suplementar, no total de 1182 passageiros. |
Tripulantes | 293 |
Armador | Companhia Colonial de Navegação - Lisboa |
Fotos
Foto 1 - Port Everglades, Florida (Estados Unidos) |
Foto 2 - Port Everglades, Florida (Estados Unidos) |
Foto 3 - Santa Maria em Lisboa |
Foto 4 - Santa Maria no Funchal |
Foto 5 - Santa Maria no Funchal |
Foto 6 - Bar de 1ª Classe |
O ASSALTO AO SANTA MARIA
"Em Janeiro de 1961 deu-se o assalto ao paquete "Santa Maria", incidente que na época notabilizou a contestação ao Governo de Oliveira Salazar, e introduziu a prática, depois muito difundida internacionalmente, de sequestrar navios e aviões com fins políticos.
O "Santa Maria" havia largado de Lisboa a 9 de Janeiro de 1961 em mais uma das suas viagens regulares à América Central, fazendo escala no porto venezuelano de La Guaira no dia 20. Entre os passageiros embarcados neste porto, contava-se um grupo de 20 membros da DRIL - Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação, organismo constituido por opositores aos regimes de Franco e Salazar, cujo comandante era o capitão Henrique Galvão, que embarcou clandestinamente no "Santa Maria" um dia depois, em Curaçau, com mais três elementos da DRIL. Galvão estava exilado na Venezuela desde Novembro de 1959, e em Julho de 1961 havia concluído os planos de assalto ao "Santa Maria". Fora escolhido este paquete por ser muito superior aos diversos navios de passageiros espanhóis que na altura faziam a carreira da América Central. O capitão Galvão pretendia deslocar-se no "Santa Maria" até à colónia espanhola de Fernando Pó, no golfo da Guiné, cuja tomada permitiria em seguida efectuar um ataque a Luanda e iniciar, a partir de Angola, o derrube dos Governos de Lisboa e de Madrid.
Horas depois da largada de Curaçau, o "Santa Maria" navegava rumo a Port Everglades, na Florida, com 612 passageiros e 350 tripulantes, sob o comando do capitão da Marinha Mercante Mário Simões da Maia, quando, precisamente à 1 hora e 45 minutos da madrugada de 22 de Janeiro de1961, os 24 homens de Henrique Galvão tomaram conta da ponte de comando e da cabine de TSF, dominando os oficiais do navio. O terceiro piloto João José Nascimento Costa ofereceu resistência aos assaltantes e foi morto a tiro. Pouco depois, o "Santa Maria" alterou o rumo para leste, procurando alcançar rapidamente o Atlântico. A 23 de Janeiro, o navio aproximou-se da ilha de Santa Lúcia e desembarcou, numa das lanchas a motor, 2 feridos graves com 5 tripulantes, comprometendo a possibilidade de atingir a costa de Africa sem ser detectado. No dia 25, o paquete cruzou-se com um cargueiro dinamarquês, traindo a sua posição, o que permitiu a um avião norte-americano localizar o "Santa Maria" horas depois. Finalmente a 2 de Fevereiro o "Santa Maria" fundeou no porto brasileiro do Recife, procedendo ao desembarque dos passageiros e tripulantes. Chegou a ser considerado o afundamento do paquete, mas no dia seguinte os rebeldes entregaram-se às autoridades brasileiras, obtendo asilo político, ao mesmo tempo que o "Santa Maria" voltava à posse da Companhia Colonial de Navegação.
O "Santa Maria" havia largado de Lisboa a 9 de Janeiro de 1961 em mais uma das suas viagens regulares à América Central, fazendo escala no porto venezuelano de La Guaira no dia 20. Entre os passageiros embarcados neste porto, contava-se um grupo de 20 membros da DRIL - Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação, organismo constituido por opositores aos regimes de Franco e Salazar, cujo comandante era o capitão Henrique Galvão, que embarcou clandestinamente no "Santa Maria" um dia depois, em Curaçau, com mais três elementos da DRIL. Galvão estava exilado na Venezuela desde Novembro de 1959, e em Julho de 1961 havia concluído os planos de assalto ao "Santa Maria". Fora escolhido este paquete por ser muito superior aos diversos navios de passageiros espanhóis que na altura faziam a carreira da América Central. O capitão Galvão pretendia deslocar-se no "Santa Maria" até à colónia espanhola de Fernando Pó, no golfo da Guiné, cuja tomada permitiria em seguida efectuar um ataque a Luanda e iniciar, a partir de Angola, o derrube dos Governos de Lisboa e de Madrid.
Horas depois da largada de Curaçau, o "Santa Maria" navegava rumo a Port Everglades, na Florida, com 612 passageiros e 350 tripulantes, sob o comando do capitão da Marinha Mercante Mário Simões da Maia, quando, precisamente à 1 hora e 45 minutos da madrugada de 22 de Janeiro de1961, os 24 homens de Henrique Galvão tomaram conta da ponte de comando e da cabine de TSF, dominando os oficiais do navio. O terceiro piloto João José Nascimento Costa ofereceu resistência aos assaltantes e foi morto a tiro. Pouco depois, o "Santa Maria" alterou o rumo para leste, procurando alcançar rapidamente o Atlântico. A 23 de Janeiro, o navio aproximou-se da ilha de Santa Lúcia e desembarcou, numa das lanchas a motor, 2 feridos graves com 5 tripulantes, comprometendo a possibilidade de atingir a costa de Africa sem ser detectado. No dia 25, o paquete cruzou-se com um cargueiro dinamarquês, traindo a sua posição, o que permitiu a um avião norte-americano localizar o "Santa Maria" horas depois. Finalmente a 2 de Fevereiro o "Santa Maria" fundeou no porto brasileiro do Recife, procedendo ao desembarque dos passageiros e tripulantes. Chegou a ser considerado o afundamento do paquete, mas no dia seguinte os rebeldes entregaram-se às autoridades brasileiras, obtendo asilo político, ao mesmo tempo que o "Santa Maria" voltava à posse da Companhia Colonial de Navegação.
Os passageiros do paquete assaltado foram transferidos para o "Vera Cruz", que saiu do Recife a 5 de Fevereiro, chegando a Lisboa a 14 do mesmo mês, após escalar Tenerife, Funchal e Vigo. Por sua vez o "Santa Maria" largou do Recife a 7 de Fevereiro, entrando no Tejo, embandeirado em arco, a 16 e atracando a Alcântara...
... Independentemente dos aspectos políticos que na altura rodearam o caso "Santa Maria", este incidente acabou por fazer do navio o mais famoso dos paquetes portugueses. Embora o "Infante D. Henrique" e o "Príncipe Perfeito" fossem mais recentes, o "Santa Maria" era um navio de prestígio por excelência, situação a que não era estranho o facto de ser o único navio de passageiros português a manter uma ligação regular entre Portugal e os Estados Unidos da América.
Coincidindo com o desvio do "Santa Maria", deflagraram a 4 de Fevereiro, em Luanda, incidentes graves, seguidos, em Março, do começo da guerra no Norte de Angola. O Governo de Lisboa decidiu enfrentar a situação, enviando a partir de Abril ràpidamente e em força importantes reforços militares. Esta decisão implicou, de imediato, a requisição de diversos paquetes e navios de carga afretados pelo Ministério do Exército para efectuarem o transporte de tropas e material de guerra. A utilização esporádica para este fim de navios de passageiros portugueses vinha já do século XIX, passando a partir de 1961 a constituir uma das principais ocupações permanentes dos paquetes portugueses...
in Paquetes Portugueses de Luis Miguel Correia
Foto 7 - O Santa Maria a chegar depois do assalto |
Foto 8 - O Santa Maria a chegar depois do assalto |
Grata pela menção à apresentação do livro, acabadinho de publicar. Apenas uma precisão: o seu autor não é Camilo Mortágua e sim JORGE SOUTOMAIOR, o operacional galego que comandou o assalto - informação disponível em
ResponderEliminarhttp://espacodememoria-patiodletras.blogspot.com
Grato pela correção. É um prazer divulgar.
ResponderEliminarSe poder... lá estarei!
Cumprimentos cordiais
Luis Passos
Uma história épica. O Capitao Galvao fez o papel dum moderno D. Quixote.
ResponderEliminarO capitao Galvao : um moderno D. Quixote.
ResponderEliminar