quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Seriedade à moda de Cavaco Silva

Por CARLOS ABREU AMORIM no DN

1. Num dos debates televisivos da pré-campanha, Cavaco Silva, com a modéstia que habitualmente lhe é reconhecida quando se avalia a si mesmo, garantiu aos portugueses que "para serem mais honestos do que eu, têm que nascer duas vezes". A frase é sintomaticamente interessante - revela-nos o quanto Cavaco Silva se deleita com as qualidades que imagina exclusivamente suas, e, especialmente, levanta o véu a um dos maiores equívocos da portugalidade: o conceito de honestidade.

A ideia de verdade e de honestidade separa diametralmente as culturas do Norte e do Sul na Europa e nas Américas. Os significados variam consoante os pontos cardeais, acabando a geografia por reflectir concepções completamente distintas. A ética prevalecente nos países de tradição cultural católica fez medrar a noção de mentira piedosa exaltando o carácter instrumental e compromissório da verdade quando em risco de aparente colisão com um fim que se julga principal - donde, faltar à verdade, consoante as circunstâncias, pode ser permitido, aconselhável e, demasiadas vezes, louvável.

De forma transversal na sociedade portuguesa, a verdade, qualquer uma, converteu-se numa impressão plástica, moldável, quase sempre condescendente. Talvez exista, mas não conheço, qualquer outro lugar onde subsista um antigo ditado popular que sentencie o infeliz que ensaie cingir-se à exactidão dos factos deste modo tão emblemático: "Dizer a verdade como os malucos". Em Portugal, falar verdade sem rebuço constitui um acto de irrecuperável falta de etiqueta apenas tolerada aos incapacitados ou às crianças (muito) pequenas.

2. A paredes-meias com a verdade está a honestidade. Cavaco jura, em voz muito alta, que é honesto, mais do que qualquer outro. Acontece que a honestidade dos homens públicos é muito ardilosa, entre nós.
Para um político, o seu paradigma sempre clamado ainda é Salazar. O ditador viveu sobriamente, embora dominasse o País com mão de ferro. Nem os seus inimigos mais jurados alguma vez sugeriram que Salazar tivesse adquirido bens de modo ilícito. No entanto, permitiu que um banqueiro mobilasse para sempre o palácio onde a rainha da Inglaterra iria pernoitar. E, à sua volta, admitiu um rodopio de tráfico de influências, favorecimentos e o condicionamento industrial que enriqueceu alguns, os seus amigos, em detrimento do País. Salazar, ele mesmo, não o fazia mas era culpado: fingia não saber aquilo que os outros compunham em seu nome.

Cavaco, provavelmente sem o suspeitar, trata a honestidade como o tirano beirão: ele próprio não lucrou com a vigarice do BPN nem com os inúmeros desmandos que tantos dos seus protegidos têm perpetrado - mas é impossível que não percebesse o que acontecia em seu redor e nem sequer deduzisse o calibre da corja que transportou consigo para os lugares mais decisivos do poder. Só que nunca se incomodou: centrado em si, julga que nada daquilo que excede a sua conduta pessoal lhe pode ser assacado, mesmo politicamente. Assim, fecha os olhos ao resto. Nisso, afinal, é excessivamente igual a todos nós...

Penso que a situação que se criou em torno do BPN na campanha presidencial foi por única e exclusiva culpa do actual presidente Cavaco Silva. Normalmente costuma-se dizer quem não deve, não teme! E por isso, logo que o candidato Manuel Alegre começou a atiçar com as primeiras insinuações, o actual presidente C.S. devia ter vindo a público em comunicado televisivo ou entrevista dizer, eu comprei as acções a fulano de tal por preço tal, vendi-as a fulano de tal a preço tal e obtive as seguintes mais valias que foram tributadas de acordo com a lei em vigor, esta portanto tudo legal. Punha-se um ponto final neste assunto e extinguia-se a labareda da fogueira que o Sr. Manuel Alegre tenta alimentar a todo o custo.
Mas não, disse que não tinha comprado, depois já tinha comprado e vendido, mas que estava tudo legal e que estava na declaração de rendimentos arquivada na Assembleia da Republica. É muito pouco e não esclarece nada, porque pode haver aqui uma situação grave de trafico de influencias, que foram pagas deste modo, através do lucro obtido na compra e venda de acções.
Por isso é urgente saber-se a quem comprou e a quem vendeu C.S. as acções, como foi fixado o preço, se havia contrato promessa de compra e venda, se não havia, qual a base contratual que está por detrás.
Para se ser honesto é necessário se-lo, não é só parece-lo... e a frase de Cavaco Silva sobre a honestidade é deveras infeliz, sobretudo para quem tem telhados de vidro, ou já se esqueceram do que aconteceu com o genro e a filha (que também está envolvida no caso BPN) no que tocou ao domínio da TVi pelo governo? E da moeda de troca que houve, no que toca a compra de rádios locais pelo genro de Cavaco Silva, que perante um atentado ao estado de direito ficou caladinho sorrateiramente, enquanto era implicado através de escutas telefónicas feitas aos membros do governo? É mesmo preciso ter descaramento para dizer que para se ser mais honesto que ele é preciso nascer duas vezes, sinceramente...  depois disto... tanto Alegre, como Cavaco, como qualquer outro politico, e tudo farinha do mesmo saco.
Leiam mas é o "Ensaio sobre a Lucidez" do falecido prémio Nobel - José Saramago, e votem mas é em branco, que é o que vou fazer! Fora com esta corja que nos (des)governa.

Cumprimentos cordiais

Luís Passos

 

2 comentários:

  1. votassem todos os portugueses em branco,como eu também vou farzer, e queria ver o que faziam os politicos de merda que nos desgovernam.

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  2. Ponto 1:Cavacoe a filha compraram ao preço de UM euro acções,quando no mercado eram vendidas a mais de DOIS euros,como bem sabiam os acima referidos.Falta saber se como o jogador Figo,lhes foi feito emprestimo pelo mesmo banco do valor da comprar e no prazo acordado (dois anos)eram recompradas pelo mesmo banco ao preço de 2,4 euros,tendo sido descontados os "juros" que não pagaram e daí a diferença com os 2,75 € que valiam potencialmente tais acções!Quanto ao pagamento de quaiquer impostos o autor do poste parece desconhecer que à data estavam TOTALMENTE isentas por serem detidas à mais de um ano fiscal,razão para as deterem mais do que um ano!Para compor o ramalhete da seriedade,o genro o Montez é devedor ao mesmo banco duns míseros milhões,que o bom povo português fará gosto em pagar....isto é público,só que como acontece com o clube dos Altos dos Moinhos,altamente sonegado,para que os provincianos,continuem a acreditar no "pai natal"...
    Eu,declaro,que JÁ NASCI PARA AÍ UMAS TRÊS VEZES....

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