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quinta-feira, 31 de março de 2011

Barry Eichengreen: "Portugal terá de reestruturar a sua dívida"

A revista Economist considerou-o um dos cinco economistas com ideias mais importantes para o mundo pós-crise, lado a lado de Raghuram Rajan, Robert Shiller, Kenneth Rogoff e Nouriel Roubini.
Para o norte-americano Barry Eichengreen, que foi consultor do FMI no final dos anos 90, a Grécia, a Irlanda e Portugal vão ter de fazer haircuts (corte no montante da dívida), de preferência com garantias colaterais do fundo de resgate do euro. O professor da Universidade de Berkely, na Califórnia, diz que não podem ser só os contribuintes a pagar a factura do ajustamento orçamental.

Portugal vai conseguir evitar um resgate da UE e do FMI?
Duvido muito. A questão não é se consegue evitar, mas quando será esse resgate.

Mas recorrer ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) será suficiente para resolver os problemas de Portugal e também da Grécia ou da Irlanda?
Acrescentar mais dívida ao FEEF em cima de dívida já existente não vai, por si só, resolver o problema. Uma solução duradoura requer também a reestruturação de dívidas que são insustentáveis (o que inclui a dívida da Grécia, da Irlanda e de Portugal).

Teremos, então, de reestruturar a dívida?
Tornou-se claro que Portugal, tal como a Grécia e a Irlanda, terá de reestruturar a sua dívida. Os mercados, ao penalizarem os títulos de dívida portugueses como o têm feito, indicam que já chegaram à mesma conclusão. Usar dinheiro do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira e do Fundo Monetário Internacional para "adocicar" o acordo com os detentores de obrigações, de modo a fazer esta reestruturação da forma mais ordeira possível, seria melhor do que outro empréstimo de resgate, como os empréstimos iniciais à Grécia e à Irlanda, que negam a necessidade de reestruturação. Não podemos ser bem-sucedidos a fazer uma desvalorização interna (reduzindo salários, pensões e outros custos), num país altamente endividado, se deixarmos intocado o valor da dívida. Esta é a contradição fundamental que está no âmago das actuais dificuldades europeias.

Mas a reestruturação da dívida não coloca o risco de contágio dentro da zona euro?
Uma reestruturação da dívida feita como deve ser e tranquilizando os investidores de que a Europa está, finalmente, a pôr a crise para trás das costas, não tem de ser uma fonte de contágio.

O que devia a Europa fazer para eliminar esse risco de contágio? Os países deveriam, por exemplo, reestruturar a dívida ao mesmo tempo?
Seria ideal ter a Grécia, Portugal e Irlanda a renegociar a dívida em simultâneo, embora a capacidade de a União Europeia (UE) orquestrar isto seja questionável.

A Espanha também estaria envolvida nesse processo?
Do meu ponto de vista, a Espanha é um caso diferente, não só por ter um nível menor de dívida, mas porque metade do seu sistema bancário está nas mãos de dois grandes bancos, que têm a maior parte dos seus negócios fora da Europa e, por isso, estão numa posição financeira mais forte.

Acha que é possível criar um consenso na Europa sobre a necessidade de aqueles países reestruturarem a dívida?
Eventualmente, os mercados irão forçar a isso, provavelmente já no Verão, se as autoridades europeias, começando pela chanceler alemã Angela Merkel, não o fizerem.

Que tipo de reestruturação da dívida pode ser feita?
Em primeiro lugar, os governos têm de reiterar o seu compromisso com o rigor orçamental no futuro. Em segundo, devem oferecer aos investidores um menu de novas obrigações em troca dos seus títulos antigos. Alguns irão manter a quantia principal inalterada, mas a taxa de juro será reduzida e a maturidade será alargada. Os bancos irão, provavelmente, preferir esta alternativa, de modo a não serem obrigados a registar perdas nos seus balanços. Noutros casos, os títulos serão reduzidos a metade, mas terão maturidades mais reduzidas e serão facilmente vendidos. Os fundos de investimento irão, provavelmente, preferir esta solução. O FEEF poderá fornecer garantias colaterais a estas novas obrigações, garantindo que são seguras, o que encorajaria os investidores a aceitar este acordo.


O que os testes de stress que estão a ser aplicados à banca devem supostamente identificar é precisamente esse risco. Espero que estes testes sejam agora feitos de uma maneira mais séria e credível do que da última vez, embora tenha dúvidas acerca disso. A testes de stress realistas, que incluem cenários realistas de reestruturação dos títulos de dívida, deveria juntar-se a injecção de fundos públicos para fortalecer os bancos mais fracos. O problema é que em países como a Alemanha há uma discussão em curso sobre quem deve pagar pela injecção de capital: os Estados, o governo federal ou outra entidade. A Alemanha tem de se apressar e tomar decisões.

Num artigo recente, avisou de que estamos a caminho de uma nova crise financeira, que seria precipitada pelo aumento das taxas de juro nos EUA. Quando é que isso irá acontecer e que países serão afectados?
Os mercados emergentes, que estão agora a receber os últimos fluxos de capital dos países avançados, irão assistir a uma reversão desses fluxos, o que irá deixar os seus bancos e mercados financeiros em sérias dificuldades - pelo menos naqueles países emergentes que estão menos preparados. Quando isso pode acontecer? Quando a Fed aumentar as taxas de juro. Suspeito que começará a fazê-lo em 2012. Por isso, é melhor prepararmo-nos.

In: Publico

sexta-feira, 25 de março de 2011

Portugal bateu no fundo


Um importante artigo no Wall Street Journal ("A Nation of Dropouts Shakes Europe" faz um diagnóstico deprimente mas certeiro da destruição causadas pelo socialismo. (minha tradução e meus destaques)

1. É preciso aumentar ainda mais os impostos:
"O estado da educação em Portugal diz muito acerca da razão pela qual este irá, com grande probabilidade, necessitar de ajuda externa e porque a factura será alta e difícil. Portugal necessita crescer o suficiente para conseguir pagar a enorme dívida acumulada."

2. É preciso evitar cortes na despesa pública a todo o custo:
"Cortes rápidos e dolorosos, que já estão a ser impostos por todo o continente, são o primeiro passo."

3. Aliás, foi o aumento da despesa que salvou o país da recessão
"A economia - tanto o sector privado como público - acumulou um défice externo superior a 130 mil milhões de euros durante a última década. O estado não tem um orçamento equilibrado, quanto mais um saldo positivo, há mais de 30 anos. (...) O peso da dívida pública, detida em parte por residentes, vai chegar esta ano aos 90% do PIB. A economia portuguesa, o que incluí tanto o sector público como privado, deve ao exterior um montante superior a dois anos de produção de riqueza."

4. O neo-liberalismo irlandês era um "tigre de papel"
"A Irlanda, apesar da brutal crise bancária, continua entre as nações mais ricas da Europa."

5. É preciso mais esquemas como as "novas oportunidades"
"Somente 28% da dos portugueses entre os 25 e os 64 anos terminou o ensino secundário. Na Alemanha são 95%, na República Checa 93% e nos EUA 89%."

6. Aliás, a educação pública é um modelo e a educação privada é uma ameaça aos ideias de justiça e igualdade
"O sistema [público de educação] está calcificado. A administração central exerce um controlo apertado. Os currículos são simultanêamente pouco exigentes e rígidos. As taxas de abandono são elevadas. (...) O Externato de Penafirme, tal outras 90 escolas com "contractos de associação" onde o estado paga uma taxa de gestão a uma entidade privada, segue as linhas gerais do currículo oficial mas selecciona os seus professores. (...) Os resultados dos exames colocam Penafirme nos melhores 15% de todos o país. É a melhor em Torres Vedras (...) Para a actual ministra, Isabel Alçada, direccionar os escassos recursos públicos para entidades privadas como Penafirme enquanto as escolas públicas sofrem de graves carências, "não é justo".