Em 1 de Setembro de 1939, quando teve início a Segunda Guerra Mundial, a Marinha de Comércio Portuguesa não dispunha de um único navio-tanque, (vulgo petroleiro), o que colocou sérios problemas ao nosso País em termos de abastecimento de combustíveis líquidos.
Foi então cometida ao Instituto Português de Combustíveis a espinhosa missão de assegurar o transporte de petróleo e seus derivados para Portugal, missão essa, extraordinariamente complicada pelo facto do mundo se encontrar em guerra o que tornava os combustíveis preciosos e mesmo vitais para as nações beligerantes.
A solução foi recorrer-se ao afretamento de navios-tanque estrangeiros, geralmente de países neutros, onerosos e difíceis de conseguir pois os que os possuíam necessitavam deles para as suas próprias importações.
Apesar de tudo, o Instituto Português de Combustíveis conseguiu afretar alguns navios-tanque estrangeiros, nomeadamente suecos.
Por outro lado, em 9 de Janeiro de 1943, entrou ao serviço o primeiro navio-tanque Português, o "SAM BRÁS", que foi construído, no Arsenal do Alfeite, por encomenda da Armada Nacional, e que veio trazer uma prestimosa ajuda ao abastecimento do País.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial as coisas começaram a normalizar-se.
O despacho nº 100, de 10 de Agosto de 1945, promulgado pelo Ministro da Marinha, Capitão-de-mar-e-guerra Américo de Deus Rodrigues Thomaz, visando a reorganização e a renovação da Marinha de Comércio Portuguesa, deu origem à construção de catorze navios de passageiros e de trinta e seis cargueiros e preconizava ainda quatro navios-tanque, sendo dois de 10.000 toneladas de porte bruto atribuídos à Companhia Colonial de Navegação e dois de 12.000 toneladas a atribuir, um à Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes e o outro à Companhia Nacional de Navegação. Porém o despacho nº 150, de 24 de Novembro de 1945, do mesmo ministro, veio introduzir alterações ao despacho nº 100, determinando a constituição de uma nova empresa armadora que operasse todos os navios-tanque nacionais por se ter reconhecido que, desse modo, os interesses do País ficariam melhor acautelados.
Constituída pelas três principais companhias de navegação:
Companhia Colonial de Navegação;
Companhia Nacional de Navegação;
Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes e
por cinco empresas que operavam em Portugal como importadoras e distribuidoras de combustíveis líquidos:
Shell Company of Portugal, Ltd.;
Socony-Vacuum Oil Company;
Companhia Portuguesa dos Petróleos – Atlantic;
Sociedade Nacional de Petróleos – Sonap – e Sacor (Sociedade Anónima Concessionária da Refinação de Petróleos); nasceu, por escritura de 13 de Junho de 1947, a Sociedade Portuguesa de Navios Tanques, SA, abreviadamente designada por SOPONATA.
Os seus primeiros navios foram os petroleiros suecos "GLOMDAL", "KALMIA" e "GLIMINGEHUS", adquiridos ao instituto Português de Combustíveis, em 7 de Agosto de 1947, e rebaptizados "AIRE", "GEREZ" e "MARÃO", respectivamente.
(Navio Tanque "Aire")
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Navio Tanque "Sameiro" |
Seguiu-se-lhes o "SAMEIRO", que foi lançado à água, no Arsenal do Alfeite, no dia 28 de Agosto de 1946, ainda com a bandeira da Companhia Colonial de Navegação à qual foi comprado pela SOPONATA em 29 de Janeiro de 1948, tendo iniciado a primeira viagem em 8 de Fevereiro, a Aruba.
A quinta unidade foi o navio-tanque "ALVELOS", consideravelmente maior que o "SAMEIRO" e a primeira construída propositadamente para a SOPONATA. A sua construção teve lugar no estaleiro belga John Cockerill SA, em Hoboken onde, no dia 20 de Maio de 1950, foi entregue à empresa armadora.
O "SÃO MAMEDE", navio-tanque gémeo do "SAMEIRO", igualmente construído no Arsenal do Alfeite e também, inicialmente, destinado à Companhia Colonial de Navegação, entrou ao serviço em 27 de Julho de 1951, indo aumentar a frota da SOPONATA.
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Navio Tanque "Claudia" |
Em 17de Agosto de 1951 a SOPONATA adquiriu, em segunda mão, a uma companhia de navegação das Honduras, um pequeno navio-tanque de nome "CLÁUDIA" que havia sido construído nos Estados Unidos, em 1944, para a Marinha Norte Americana, sob a designação Y80.
Afretado pela Sacor Marítima, Lda. em 1951 acabou por lhe ser vendido a 31 de Janeiro de 1961.
Tanto a SOPONATA como a Sacor Marítima mantiveram-lhe o nome "CLÁUDIA".
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Navio Tanque Bornes |
Seguiram-se-lhe o "BORNES", o "CERCAL" e o "DONDO", navios gémeos do "ALVELOS" e construídos no mesmo estaleiro belga. Entraram ao serviço da SOPONATA em 1951, 1952 e 1955 respectivamente.
O "FOGO" foi a décima segunda unidade a integrar a frota da SOPONATA. Também foi construído no citado estaleiro belga sendo porém substancialmente maior que os navios da classe "ALVELOS".
O quinto e último navio daquela classe foi o "ERATI" que, ao contrário dos seus quatro irmãos mais novos, foi construído em Portugal, no Arsenal do Alfeite, sendo à data o maior navio construído no nosso País, como anteriormente já o tinham sido os gémeos "SAMEIRO" e "SÃO MAMEDE" e, antes deles o já citado navio-tanque da Armada, o "SÃO BRÁS" (1). O "ERATI" entrou ao serviço em 1958.
Gémeo do "FOGO", mas construído em Portugal, mais uma vez no Arsenal do Alfeite, surge o "GERÊS" que com os seus 191,65 metros de comprimento de fora a fora e o porte bruto de 27.418 toneladas, foi até 1979, o maior navio construído em estaleiros Portugueses. Entrou ao serviço em 30 de Outubro de 1962.
Seguiu-se um par de gémeos o "HERMÍNIOS" e o "INAGO" construídos no estaleiro Kawasaki Dockyard em Kobe, no Japão. Entraram ao serviço em 1960 e 1963 respectivamente. Tiveram a particularidade de serem os últimos navios-tanque da SOPONATA a terem a superstrutura que integra a ponte de comando localizada a meio-navio, como todos os que os antecederam (2) , acontecendo que a unidade seguinte, o "JECI", e todas as subsquentes passaram a apresentar a ponte de comando englobada numa única superstrutura, situada à ré, e da qual continuou a emergir a chaminé.
O "JECI", que não teve nenhum gémeo na SOPONATA, foi também construído em Kobe no estaleiro Kawasaki Dockyard e entrou ao serviço em 2 de Junho de 1966.
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Navio Tanque "Larouco" |
A unidade seguinte, o "LAROUCO", foi encomendada ao estaleiro da Lisnave, na Margueira mas, a construção do casco foi subcontratada no estaleiro A.G. Weser, em Bremen, Alemanha. Foi baptizado na Margueira em 23 de Junho de 1969, e entregue à SOPONATA em 10 de Julho do mesmo ano. Foi um outro caso de "filho único".
Seguidamente foi incorporado na frota em 17 de Abril de 1973 o "ORTINS BETTENCOURT" construído em Kobe, Japão e primo muito próximo dos três gémeos "MARÃO", "MONTEMURO" e "MAROFA" construídos na Suécia. Entraram ao serviço da SOPONATA também em 1973, excepto o último que entrou em 1974.
(Navio Tanque "Montemuro")
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Navio tanque "São Mamede" |
Em 1977 e 1978 foi a vez de serem incorporados na SOPONATA um segundo "SAMEIRO" e um quase gémeo que foi baptizado "S. MAMEDE" (3) ambos construídos em Itália.
Vieram depois os três gigantes "NEIVA", "NOGUEIRA" e "NISA" que com os seus 346 metros de comprimento de fora a fora e o porte bruto de 323.000 toneladas foram os maiores navios Portugueses de todos os tempos. Entraram ao serviço em 1976, 1979 e 1983 respectivamente.
(navio tanque "Nisa")
(Navio tanque "Neiva")
Integraram a frota em 1980, 1987 e 1988 um segundo "ALVELOS", um segundo "AIRE" e um segundo "CERCAL", comprados em segunda mão.
Encomendados aos Estaleiros Navais de Setúbal Setenave/Salisnor um segundo "BORNES", um segundo "ERATI" e um segundo "INAGO", entraram ao serviço em 1990, 1992 e 1993 respectivamente.
Em 1996 integrou a frota da SOPONATA uma unidade que, ao contrário de todas as anteriores, não era um navio-tanque. Tratou-se dum porta-contentores comprado em segunda mão, ao qual foi dado o nome de "SONGO" e que operou em serviço de cabotagem na costa de Moçambique até 2001, posto o que foi vendido.
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Navio Tanque "Portel" |
Posteriormente entraram ao serviço da SOPONATA os navios-tanque "JECI" e "GERES" em 1999, "SINTRA" em 2000, "PENEDA" em 2002 e "PORTEL" em 2003.
Este segundo "JECI" foi vendido em 2003 enquanto que os quatro restantes, bem como o segundo "BORNES", o segundo "ERATI" e o segundo "INAGO", já atrás mencionados, constituem a frota actual.
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Navio Tanque "Peneda" |
Esta é, em traços muito breves, uma extremamente sucinta enumeração dos trinta e oito navios que, durante os seus cinquenta e seis anos de vida, têm integrado a frota da Sociedade Portuguesa de Navios Tanques, SA.
Aqui lhe auguramos um brilhante e próspero futuro uma vez que, das seis empresas armadoras Portuguesas (4) , com alguma expressão, que existiam, quando em 1956, abraçámos a carreira do mar, a SOPONATA é, hoje em dia, como honrosa excepção, a única sobrevivente.
José Ferreira dos Santos
Capitão da Marinha Mercante
Membro Efectivo da Academia de Marinha
NOTAS:
(1) Os navios-tanque "SAM BRÁS", "SAMEIRO", "ERATI" e "GERES", construídos todos no Arsenal do Alfeite, com os comprimentos de fora afora de 108,75, 138,50, 163,72 e 191,65 metros, respectivamente, foram sucessivamente, às datas das suas construções, os maiores navios construídos em Portugal. Em 1979 foi construído em Setúbal, pela Setenave, o navio-tanque "NOGUEIRA ", que com os seus 346 metros de comprimento fora-a-fora e 323.000 toneladas de porte bruto, continua a ser, até hoje, o maior navio construído no nosso País
(2) Excepção feita ao pequeno "CLÁUDIA ", comprado em segunda mão, e que devido à sua pequenez apenas podia ser utilizado em serviço costeiro e tráfego local, ao passo que todos os restantes navios-tanque da SOPONATA eram unidades oceânicas.
(3) É curioso notar que a ortografia do nome do " SÃO MAMEDE" de 1951 difere da do "S. MAMEDE" de 1978. Também a ortografia do nome do "GEREZ" de 1947 é diferente da do segundo e do terceiro "GERES", de 1962 e 1999, respectivamente.
(4) As cinco empresas de navegação já desaparecidas eram a Empresa Insulana de Navegação, a Companhia Nacional de Navegação, a Companhia Colonial de Navegação, a Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes, Lda. e a Companhia de Navegação Carregadores Açoreanos.
Fotos: http://lmcshipsandthesea.blogspot.com/
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http://navios.no.sapo.pt/naviost.html
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Caros,
Um povo sem memória é um povo sem futuro.
Cumprimentos cordiais
Luís Passos