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terça-feira, 12 de julho de 2011

Keiser Report: Europe's Neo Feudalism

 
Para se perceber o que se passa actualmente com a baixa dos ratings e a situação na europa.
Obrigatório ver!

Cumprimentos cordiais

Luís Passos

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Portagens nas Scut: História de uma vigarice


 1. As Scut começaram mal e ameaçam acabar muito pior. Um Governo socialista idealizou-as como "as auto-estradas que se pagam a si próprias". À época, muitos denunciaram a fantasia. Os socialistas, designadamente os ex-ministros João Cravinho e Jorge Coelho (nunca se esqueçam!), juravam que não: tudo estava planeado e as vozes que requeriam mais ponderação e cautela não passavam, dizia-se, de incertezas colocadas por quem não tinha imaginação para mais. Quando Guterres fugiu e nasceu o Governo de coligação PSD/CDS, fizeram-se finalmente as contas e percebeu-se a inevitabilidade das portagens como esforço de compensação para o negócio ruinoso para o Estado que os socialistas tinham engendrado.
Algum tempo depois, um outro Governo socialista chegou. Voltou a prometer a gratuitidade - muitos acreditaram e a vida das empresas e das pessoas daquelas regiões servidas pelas Scut foram-se compondo ao seu redor.
2. Depois, Sócrates fez o que mais o notabiliza: alegremente, pontapeou essa promessa eleitoral. Sem pestanejar, repetiu tudo aquilo que parte da Oposição dizia desde o início e afirmou a urgência das portagens.
Os consórcios privados cedo perceberam que o fluxo de trânsito iria diminuir após a introdução das portagens. De imediato, quiseram a renegociação da fórmula de pagamento que era baseada, precisamente, no número de viaturas que transitavam nessas vias. E, pasme-se, conseguiram todos os seus intentos - até os devem ter superado. Obedientemente, o Estado socialista renegociou o que as empresas queriam e como estas desejavam: a base da compensação às empresas (rentabilidade) passou a ser um conceito indeterminado, poeticamente denominado de "disponibilidade". A partir desse funesto momento, o fluxo de veículos nas Scut era indiferente para os consórcios - estes, recebiam "rentabilidades" desmesuradas em qualquer situação.
3. O resultado foi desastroso. De acordo com uma auditoria preliminar do Tribunal de Contas (TC), realizada graças a uma réstia de vergonha que ainda consegue subsistir por aqueles lados e cujos resultados provisórios terão escapado para os jornais antes do tempo politicamente aprazado, os consórcios privados ficaram a ganhar (e o Estado a perder) 58 vezes mais com a renegociação do novo modelo de pagamento a pretexto da introdução das portagens. Se as notícias agora conhecidas se vierem a confirmar, a retribuição que o Estado terá de ofertar aos privados terá crescido 10 mil milhões de euros...
4. Quando as portagens surgiram, quiseram convencer-nos de que se tratava de um esforço imprescindível para ajudarmos o país a sair do buraco onde tinha sido enfiado pelos maus governos que nos têm assolado. Afinal, afundámo-nos ainda mais.
Já vi realizarem-se maus negócios mas nada que se assemelhasse a isto. Caso esta auditoria do TC seja autêntica, o desnível entre a inteligência dos privados e a gritante obtusidade dos negociadores do Governo é excessivo e suspeito: tudo indica que se trata de uma vigarice legal.
O processo das Scut revela que a incompetência deste Governo está muito para além da redenção. E constituirá um exercício de cidadania ficarmos atentos, nos próximos anos, aos destinos profissionais daqueles governantes, pretensos defensores do interesse comum, que participaram nesta marosca deplorável.
Sempre que os leitores passarem por debaixo de um dos pórticos e ouvirem o irritante sinal sonoro do identificador, quando descobrirem os débitos nas suas contas bancárias, lembrem-se de quem criou e prometeu aquelas estradas "sem custos para o utilizador". Evoquem as promessas mil vezes repetidas pelos mesmos que as quebraram. Recordem os argumentos da necessidade do país nesta hora de aflição que nos foram impingidos quando nos fizeram pagar aquilo que tinham jurado ser gratuito. E recapitulem os números: o dinheiro dos nossos impostos, após as portagens, vai ser imolado 58 vezes mais dolorosamente do que antes.
Pois, como dizia o sempre presente ex-ministro Jorge Coelho, hoje do outro lado da ditosa barricada, "há pouca memória na política portuguesa"...

In: DN

Como já aqui tinha referido no Faro é Faro, com a entrada em vigor do novo regime de Scuts com portagem paga pelo utilizador, a despesa do estado é efectivamente maior, porque dado que anteriormente o estado pagava uma Taxa Plana, de acordo com o previsto em contrato, agora não, paga em função das passagens efectivas, ou seja, o estado recolhe o dinheiro das portagens e entrega aos concessionários, pagando o remanescente até ao valor contratual.
Efectivamente, devido a entrada em vigor das portagens, o numero de utilizadores diminuiu, o valor a pagar pelo estado irá aumentar muitíssimo, porque o remanescente terá de ser pago por todos nós em impostos.

Para além do aumento da despesa dos estado, faz com que a economia funcione pior, que as empresas tenham mais custos e os façam repercutir nos produtos, o que irá provocar alguma contracção na economia, e por isso o estado irá arrecadar menos impostos.
Por esta medida tratou-se de um duplo tiro nos pés... alias não foi um tiro, foi uma verdadeira bazucada.

No caso do Algarve, em que a EN125 não é uma alternativa a via do Infante, porque é uma estrada de características urbanas, com troços limitados a 50km/h e que atravessa localidades; vai atravancar a economia, fazer disparar os custos das empresas, e pior vai afastar os espanhóis de visitar Portugal, pois com portagens e uma taxa de IVA elevadíssima, deixam de vir passear ao fim de semana e provar a nossa comida que eles tanto gostam.

E pior, no caso da via do infante, 80% do seu traçado foi pago com dinheiros comunitários... não é uma pareceria publico-privada! Alias nem era para ser portajada, foi uma imposição do PSD, nomeadamente de Passos Coelho, que dizia que em relação as SCUTS do norte, ou se pagam todas ou não se pagam nenhumas!

Algarvios... na hora de votar... lembrem-se disso! Eu não me esquecerei!

Já decidi... VOTO EM BRANCO... PELO FIM DA ACTUAL CLASSE POLITICA!

Cumprimentos cordiais

Luís Passos

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Portugal visto pelo sociólogo Jaques Amaury

Este conhecido sociólogo e filosofo francês, Jaques Amaury, professor na Universidade de Estrasburgo, publicou recentemente um estudo sobre “A crise Portuguesa”, onde elenca alguns caminhos, tendentes a soluciona – la.

“Portugal atravessa um dos momentos mais difíceis da sua história que terá que resolver com urgência, sob o perigo de deflagrar crescentes tensões e consequentes convulsões sociais.
Importa em primeiro lugar averiguar as causas. Devem – se sobretudo à má aplicação dos dinheiros emprestados pela CE para o esforço de adesão e adaptação às exigências da união.
Foi o país onde mais a CE investiu “per capita” e o que menos proveito retirou. Não se actualizou, não melhorou as classes laborais, regrediu na qualidade da educação, vendeu ou privatizou a esmo actividades primordiais e património que poderiam hoje ser um sustentáculo.
Os dinheiros foram encaminhados para auto estradas, estádios de futebol, constituição de centenas de instituições publico - privadas, fundações e institutos, de duvidosa utilidade, auxílios financeiros a empresas que os reverteram em seu exclusivo benefício, pagamento a agricultores para deixarem os campos e aos pescadores para venderem as embarcações, apoios estrategicamente endereçados a elementos ou a próximos deles, nos principais partidos, elevados vencimentos nas classes superiores da administração publica, o tácito desinteresse da Justiça, frente à corrupção galopante e um desinteresse quase total das Finanças no que respeita à cobrança na riqueza, na Banca, na especulação, nos grandes negócios, desenvolvendo, em contrário, uma atenção especialmente persecutória junto dos pequenos comerciantes e população mais pobre.
A política lusa é um campo escorregadio onde os mais hábeis e corajosos penetram, já que os partidos cada vez mais desacreditados, funcionam essencialmente como agências de emprego que admitem os mais corruptos e incapazes, permitindo que com as alterações governativas permaneçam, transformando – se num enorme peso bruto e parasitário. Assim, a monstruosa Função Publica, ao lado da classe dos professores, assessoradas por sindicatos aguerridos, de umas Forças Armadas dispendiosas e caducas, tornaram – se não uma solução, mas um factor de peso nos problemas do país.
Não existe partido de centro já que as diferenças são apenas de retórica, entre o PS (Partido Socialista) que está no Governo e o PSD (Partido Social Democrata), de direita, agora mais conservador ainda, com a inclusão de um novo líder, que tem um suporte estratégico no PR e no tecido empresarial abastado. Mais à direita, o CDS (Partido Popular), com uma actividade assinalável, mas com telhados de vidro e linguagem publica, diametralmente oposta ao que os seus princípios recomendam e praticarão na primeira oportunidade. À esquerda, o BE (Bloco de Esquerda), com tantos adeptos como o anterior, mas igualmente com uma linguagem difícil de se encaixar nas recomendações ao Governo, que manifesta um horror atávico à esquerda, tal como a população em geral, laboriosamente formatada para o mesmo receio. Mais à esquerda, o PC (Partido comunista) vilipendiado pela comunicação social, que o coloca sempre
como um perigo latente e uma extensão inspirada na União Soviética, oportunamente extinta, e portanto longe das realidades actuais.
Assim, não se encontrando forças capazes de alterar o status, parece que a democracia pré – fabricada não encontra novos instrumentos.
Contudo, na génese deste beco sem aparente saída, está a impreparação, ou melhor, a ignorância de uma população deixada ao abandono, nesse fulcral e determinante aspecto. Mal preparada nos bancos das escolas, no secundário e nas faculdades, não tem capacidade de decisão, a não ser a que lhe é oferecida pelos órgãos de Comunicação. Ora e aqui está o grande problema deste pequeno país; as TVs as Rádios e os Jornais, são na sua totalidade, pertença de privados ligados à alta finança, à industria e comercio, à banca e com infiltrações accionistas de vários países.
Ora, é bem de ver que com este caldo, não se pode cozinhar uma alimentação saudável, mas apenas os pratos que o “chefe” recomenda. Daí a estagnação que tem sido cómoda para a crescente distância entre ricos e pobres.
A RTP, a estação que agora engloba a Rádio e Tv oficiais, está dominada por elementos dos dois partidos principais, com notório assento dos sociais democratas, especialistas em silenciar posições esclarecedoras e calar quem lenta o mínimo problema ou dúvida. A selecção dos gestores, dos directores e dos principais jornalistas é feita exclusivamente por via partidária. Os jovens jornalistas, são condicionados pelos problemas já descritos e ainda pelos contratos a prazo determinantes para o posto de trabalho enquanto, o afastamento dos jornalistas seniores, a quem é mais difícil formatar o processo a pôr em prática, está a chegar ao fim. A deserção destes, foi notória.
Não há um único meio ao alcance das pessoas mais esclarecidas e por isso, “non gratas” pelo establishment, onde possam dar luz a novas ideias e à realidade do seu país, envolto no conveniente manto diáfano que apenas deixa ver os vendedores de ideias já feitas e as cenas recomendáveis para a manutenção da sensação de liberdade e da prática da apregoada democracia.
Só uma comunicação não vendida e alienante, pode ajudar a população, a fugir da banca, o cancro endémico de que padece, a exigir uma justiça mais célere e justa, umas finanças atentas e cumpridoras, enfim, a ganhar consciência e lucidez sobre os seus desígnios.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Tudo (quase) na mesma

Por Carlos Alberto Amorim no JN


1 Portugal vai enfrentar a pior parte da crise com o mesmo presidente da República (PR) e o mesmo Governo que já estavam no poder quando aqui ancorou a vertente internacional dessa mesma crise que apenas veio agravar os apuros económicos e financeiros que por cá andavam há muito. Cavaco Silva cumpriu o objectivo a que devotou todas as suas energias e pelo qual omitiu grande parte dos seus deveres como PR no último ano e meio. Não teve adversários à altura. Foi ajudado pelo Governo quando foi preciso. E todos os agentes políticos estão cientes de que nada mudará, nem para melhor nem para pior, neste país.
Desenganem-se aqueles que julgam que o PS sofreu uma derrota - nada mais falso! Sócrates temperou os resultados de ontem com talento e sabedoria políticas, pois uma vitória de Alegre seria o pior desfecho para os seus interesses.
Pelo contrário, Passos Coelho, intencional e perfidamente minimizado como o "presidente da Assembleia Municipal de Vila Real", pode começar a sentir a oposição interna que tem andado pacata: ontem, na RTP, Rui Rio não o conseguiu esconder...
2 . Cerca de metade dos portugueses (nos quais me incluo) decidiram que não valia a pena votar. Excluindo os referendos, terá sido a eleição nacional com a participação mais fraca desde que a democracia foi reinstalada com o 25 de Abril de 1974. Há dez anos, na reeleição de Jorge Sampaio, a abstenção teve níveis semelhantes mas os cadernos eleitorais de então detinham um erro de perto de 8% em relação aos votantes reais - ao contrário de ontem, onde a votação dispunha de cadernos eleitorais "limpos", com um desacerto que não deveria ultrapassar o nível de 1,5%. O que reforça a conclusão de que os portugueses se distanciaram do modo de fazer política em Portugal. Querer fazer análise política enjeitando ou mesmo aperaltando este facto notório constitui um erro absurdo. Do mesmo modo, insistir no reforço da "pedagogia democrática" visando alumiar o pretenso negrume obtuso das consciências dos abstencionistas, como ontem à noite se ouviu em quase toda a Comunicação Social, é de um paternalismo insuportavelmente inepto.
Obviamente que não se deve forçar a lógica ao ponto de colocar todos os abstencionistas no mesmo patamar - convém separar aqueles que não votaram por puro desinteresse dos muitos outros, como eu, que se abstiveram pela enorme desilusão que o funcionamento do sistema político lhes instiga. Estes últimos, desmotivaram-se pela fraquíssima qualidade dos candidatos e, sobretudo, estão convictos de que qualquer resultado de estas Presidenciais - autênticas eleições de segunda categoria - é absolutamente inócuo, quer para a situação nacional quer para o normal desenrolar das suas vidas.
3 . O Cartão do Cidadão foi uma reforma ousada e (muito) cara. Visava a atenuação do flagelo da burocracia e a consequente simplificação da vida dos cidadãos. Já nos dois actos eleitorais de 2009 se percebeu que o novo sistema levantava problemas: eleitores deslocados das suas mesas de voto de sempre, alguns, até, da freguesia ou do concelho onde sempre habitaram. Supunha-se que essas más experiências tivessem sido corrigidas ao mesmo tempo que se fez a "limpeza" dos cadernos eleitorais. Mas tal não aconteceu. O sistema parece ter aluído nestas eleições, perturbando as intenções de muitos eleitores que se viram obrigados a ir para casa sem votar, atarantados, face à barafunda instalada. Ouvi o director-Geral da Administração Interna desculpar-se com os "novos eleitores" - mas bastava passar alguns minutos a ver qualquer canal de notícias para se perceber que a confusão atacava os novos e os velhos eleitores indiscriminadamente. Esta desordem administrativa é uma vergonha (mais uma!) que Portugal está hoje a sofrer na Imprensa internacional. Em qualquer país normal, os responsáveis por gerarem um sistema que reincide em impedir os eleitores de exercerem o seu direito de voto seriam imediatamente demitidos - e o primeiro a sair deveria ser o próprio ministro. Mas somos o que somos e acredito que dificilmente existirá um mero pedido de desculpas...

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Não vou votar!!!

por CARLOS ABREU AMORIM no DN

1. Pela primeira vez desde que fiz 18 anos, não exercerei o direito de voto no próximo domingo. Vou abster-me, num acto pensado que se sustenta na inutilidade do actual modelo de poderes presidenciais e na sua trágica discrepância com a elevação democrática que subjaz à eleição directa e universal do seu titular.
Os poderes presidenciais constantes na Constituição constituem uma amálgama de elementos incoerentes sem sombra de identidade própria. Os seus defensores gostam de o nomear com uma expressão assaz reveladora desse insuperável estado de confusão: seria um modelo semipresidencial misto com pendor parlamentar!
Na prática das últimas décadas percebeu-se que este é o lugar público onde se torna mais perceptível a directa relação entre a dimensão do cargo e a daquele que o exerce. Se o seu titular se reduzir a ser um "Presidente do Conselho Fiscal do Formalismo Constitucional", como sucedeu com Cavaco Silva (e com nove anos e meio dos dez de Jorge Sampaio), então não faz qualquer sentido persistir em elegê-lo por sufrágio directo e universal.
2. Nos últimos quinze anos, este País andou sempre para trás. Qualquer que seja a questão nacional (educação, saúde, justiça, economia, finanças, credibilidade das instituições, o estado de depressão colectiva, etc.), Portugal está muito pior.
No entanto, segundo grande parte dos nossos constitucionalistas, bem como dos cronistas da corte que julgam fazer análise política, nenhuma responsabilidade pode ser assacada aos presidentes da República (PR).
Esta tentativa forçada de desculpabilização é contraproducente - acaba por desvendar que, afinal, o PR não faz qualquer diferença. Se o PR não influenciou as muitas desgraças que nos têm sucedido, então para que é que serve? É um mero distribuidor de alguns cargos e muitas duvidosas honras? Consistirá num simples produtor de avisos ou numa espécie de moralista do caos sem força palpável nos destinos colectivos? E será democraticamente adequado sujeitar o País a eleições presidenciais quando a omissão política do PR é um dado esperado e aceite pela exígua minoria que conhece a Constituição?
3. A ideia contemporânea de participação democrática vive da possibilidade de os cidadãos poderem influir efectivamente nas decisões que vão afectar as suas vidas. A democracia não se esgota em eleições - contudo, é nestas que os cidadãos possuem um instrumento activo para poderem agir sobre a realidade política, procurando alterá-la, através do seu voto. Os dois últimos Presidentes primaram pela apatia, ambos justificando-se com o desenho constitucional dos seus poderes.
Só que a esmagadora maioria dos eleitores julga que o seu voto, no próximo domingo, tem o dom de eleger alguém que pode determinar mudanças reais no País - o que não é verdade. Apesar de tal não ter estado na mente do legislador constituinte, do ponto de vista democrático as eleições presidenciais são uma autêntica fraude constitucional.
Não vou votar porque sei que isso seria um acto inútil e ilusório. E, ainda, porque a abstenção consciente, hoje em dia, é a melhor forma de expressar o repúdio por este sistema em que nos afundámos.





Eu pessoalmente já decidi... irei cumprir o meu dever cívico, mas vou votar em branco, porque não me revejo em nenhum dos candidatos. Este sistema politico chegou ao fim de um ciclo, é preciso sangue novo, caso contrário vamos permanecer neste charco de podridão onde estamos atascados.

Cumprimentos cordiais

Luís Passos 

domingo, 2 de janeiro de 2011

O falhanço da geração de 60

Falharam a vida, meninos

 Nas fotografias que gostam de mostrar têm o cabelo revolto e um ar de quem tem a certeza de tudo. São a chamada geração de 60, definição imprecisa mas prática por essa imprecisão que permite englobar nela muitos daqueles que foram jovens um pouco antes ou depois dessa década ícone para a geração que não só nos tem governado como também construiu o mundo imaginário onde vivemos.

Esse mundo onde público era sinónimo de justiça e gratuitidade rimava com solidariedade. Esse mundo onde governar bem equivalia a fazer cada vez mais promessas de redistribuição e onde o Estado passou a ser entendido como o grande doador. Esse mundo onde não haveria mais guerras porque tudo se resolveria pelo diálogo, esse mundo onde a corrupção era um problema dos outros, sobretudo daqueles que os tinham antecedido, porque eles eram puros.

A cada dia que passa, a cada pirueta sobre o empobrecimento de que não se deve falar porque parece mal e é populista abordar tal assunto, sobre os jornalistas que eram combativos e perseguidos quando escreviam sobre os conluios do poder doutros tempos e que agora passaram a ignorantes quando não a canalhas caso escrevam sobre as negociatas do poder de agora, sobre a emigração que outrora confirmava sermos um país sem esperança e que agora não interessa nada, sobre os tribunais cuja independência foi uma reivindicação até que eles temeram sentar-se no banco dos réus… pois a cada dia desses apetece-me mandá-los ler esse fabuloso final d”Os Maias donde foi retirado e adaptado o título desta crónica. Aliás, talvez sejam a última geração por largas décadas que em Portugal tem gosto literário que lhe permite ler Eça, pois as gerações seguintes, tendo frequentado aquilo a que a geração de 60 chamou escola inclusiva, multicultural, progressiva… etc. … etc., terão grandes dificuldades em ler algo que não lhes seja apresentado como muito fácil, muito giro e muito moderno. O que é sinónimo de não ler nada que valha a pena.

Na verdade talvez não seja necessário recorrer a Eça. Talvez baste imaginar aqueles questionários que, tal como acontece com o da Pública, perguntam aos escolhidos com que idade tomaram consciência de que tinham falhado na vida. Contudo creio que a geração de 60 nunca admitirá que falhou. Está-lhes na génese culpar os outros por tudo o que acontece: primeiro culparam os pais porque tinham perpetuado um modelo de família que achavam caduco e baseado na mentira. E quando eles mesmos amaram, odiaram, traíram e fizeram compromissos, como acontece a todo o Sapiens sapiens desde que o mundo é mundo, culparam o pai e sobretudo a mãe porque muitos anos antes não lhes tinham dito as palavras que eles achavam certas. 

Depois culparam o sistema das guerras e o capitalismo da pobreza. Enfim, no quotidiano, fosse ele o sexo ou a economia, havia sempre uma culpa que tudo explicava. Quanto ao mundo, havia essa culpa original do homem branco que estava sempre por trás dos massacres e das fomes. E ela, a tal geração de 60, assumiu-se como a apontadora de culpas.

Quando chegou a sua vez de serem poder viveram da culpa anos a fio, o que em Portugal nem sequer era difícil dado o carácter ditatorial do Estado Novo. Se lhes fosse possível teriam mantido Salazar empalhado para fazer dele um eterno bode expiatório. Na impossibilidade de tal acontecer levaram anos a descobrir salazares atrás de políticos ou propostas que não se acomodassem à sua forma de ver o mundo.

Talvez o primeiro momento em que a geração de 60 finalmente se sentiu adulta em Portugal tenha ocorrido quando constatou que a culpabilização do Estado Novo já não chegava para explicar o presente. Esse presente em que não há dinheiro para pagar as reformas que eles tinham garantido e que só por maldade não eram maiores e constantemente actualizadas. Esse presente em que os portugueses sustentam dois serviços de saúde, o dos seguros, à cautela, e o do Serviço Nacional de Saúde, o tal que tinha de ser universal e gratuito porque foi assim que esta geração o imaginou, primeiro no arrebatamento das greves académicas e depois na solenidade das reuniões maçónicas e que como bem se sabia não só não é gratuito como arranja agora estratagemas para excluir aqueles que já não chegaram a tempo. Esse presente em que a legislação sobre o emprego transformou os mais jovens em eternos tarefeiros a recibo verde. Esse presente em que ter bons resultados quer dizer que arranjámos quem compre um bocadinho da nossa dívida.

Quando a realidade se lhes impôs buscaram novos culpados que acrescentaram aos antigos: os culpados tanto podiam ser os grandes capitalistas como, no dia seguinte, os empresários de vão de escada. Os mercados cegos ou os investidores sem gosto pelo risco. A ânsia do lucro ou o atavismo da mediocridade do q.b. A defesa da competitividade ou o egoísmo a sobrepor-se ao igualitarismo. A falta de Europa ou o excesso dela. As decisões da senhora Merkel ou as indecisões da senhora Merkel. Os bancos que se endividaram para emprestar dinheiro a quem não podia pagar tais créditos sem avaliar os riscos dessas operações e os bancos que não querem correr o risco de nos emprestar dinheiro. Os pessimistas que influenciam negativamente as agências de rating sobre Portugal e as agências de rating que não se deixam influenciar pelos optimistas.

Todos os dias, semanas, meses e anos nos apontaram novos culpados. Aos culpados de sempre somaram ameaças globais – como as alterações de clima, a gripe A ou a escassez dos alimentos – e promoveram cruzadas que procuraram fazer de cada um de nós um convertido aos seus novos dogmas e que tanto abarcam aquilo a que chamam questões de género como o sal que se põe no pão.
No fim, acabámos cansados. Estourados de apontar tanta culpa alheia e perplexos perante o caos que entretanto se instalara à nossa volta. Tudo o que nos prometeram está agora em causa. E como é óbvio já o sabiam há muito tempo.

A geração de 60 será em Portugal uma das primeiras em décadas e décadas a ser sucedida por outras que viverão pior. O ano que agora acaba é aquele em que se tornou óbvio que falharam a vida, meninos. O que nos espera de agora em diante é constatar que para lá desse falhanço também lixaram a vida daqueles que vieram depois.
In: PÚBLICO via Blasfémias

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

MEMÓRIAS DO PORTUGAL RESPEITADO



Por:  Luís Soares de Oliveira

Terça-feira, 20 de Abril de 2010

MEMÓRIAS DO PORTUGAL RESPEITADO


Corria o ano da graça de 1962. A Embaixada de Portugal em Washington recebe pela mala diplomática um cheque de 3 milhões de dólares (em termos actuais algo parecido com € 50 milhões) com instruções para o encaminhar ao State Department para pagamento da primeira tranche do empréstimo feito pelos EUA a Portugal, ao abrigo do Plano Marshall.
O embaixador incumbiu-me - ao tempo era eu primeiro secretário da Embaixada - dessa missão.

Aberto o expediente, estabeleci contacto telefónico com a desk portuguesa, pedi para ser recebido e, solicitado, disse ao que ia. O colega americano ficou algo perturbado e, contra o costume, pediu tempo para responder. Recebeu-me nessa tarde, no final do expediente. Disse-me que certamente havia um mal entendido da parte do governo português. Nada havia ficado estabelecido quanto ao pagamento do empréstimo e não seria aquele o momento adequado para criar precedentes ou estabelecer doutrina na matéria. Aconselhou a devolver o cheque a Lisboa, sugerindo que o mesmo fosse depositado numa conta a abrir para o efeito num Banco português, até que algo fosse decidido sobre o destino a dar a tal dinheiro. De qualquer maneira, o dinheiro ficaria em Portugal. Não estava previsto o seu regresso aos EUA.

Transmiti imediatamente esta posição a Lisboa, pensando que a notícia seria bem recebida, sobretudo num altura em que o Tesouro Português estava a braços com os custos da guerra em África. Pensei mal. A resposta veio imediata e chispava lume. Não posso garantir a esta distância a exactidão dos termos mas era algo do tipo: "Pague já e exija recibo". Voltei à desk e comuniquei a posição de Lisboa.

Lançada estava a confusão no Foggy Bottom: - não havia precedentes, nunca ninguém tinha pago empréstimos do Plano Marshall; muitos consideravam que empréstimo, no caso, era mera descrição; nem o State Department, nem qualquer outro órgão federal, estava autorizado a receber verbas provenientes de amortizações deste tipo. O colega americano ainda balbuciou uma sugestão de alteração da posição de Lisboa mas fiz-lhe ver que não era alternativa a considerar. A decisão do governo português era irrevogável.
Reuniram-se então os cérebros da task force que estabelecia as práticas a seguir em casos sem precedentes e concluíram que o Secretário de Estado - ao tempo Dean Rusk - teria que pedir autorização ao Congresso para receber o pagamento português. E assim foi feito. Quando o pedido chegou ao Congresso atingiu implicitamente as mesas dos correspondentes dos meios de comunicação e fez manchete nos principais jornais. "Portugal, o país mais pequeno da Europa, faz questão de pagar o empréstimo do Plano Marshall"; "Salazar não quer ficar a dever ao tio Sam" e outros títulos do mesmo teor anunciavam aos leitores americanos que na Europa havia um país - Portugal - que respeitava os seus compromissos.

Anos mais tarde conheci o Dr. Aureliano Felismino, Director-Geral perpétuo da Contabilidade Pública durante o salazarismo (e autor de umas famosas circulares conhecidas ao tempo por "Ordenações Felismínicas" as quais produziam mais efeito do que os decretos do governo). Aproveitei para lhe perguntar por que razão fizemos tanta questão de pagar o empréstimo que mais ninguém pagou. Respondeu-me empertigado: - "Um país pequeno só tem uma maneira de se fazer respeitar - é nada dever a quem quer que seja".

Lembrei-me desta gente e destas máximas quando há dias vi na televisão o nosso Presidente da República a ser enxovalhado pública e grosseiramente pelo seu congénere checo a propósito de dívidas acumuladas.




Eu ainda me lembro de tais coisas, mas a grande maioria dos Portugueses de hoje nem esse consolo tem.

Estoril, 18 de Abril de 2010
 

Luís Soares de Oliveira


Este texto chegou-me por email, enviado pelo meu amigo Álvaro, a quem agradeço. Realmente a situação do pais é vergonhosa, em outros tempos as pessoas sabiam o que eram compromissos, não gastavam a tripa forra, não se faziam obras megalómanas, mas apenas aquelas que o pais precisa. Hoje reparo para o que se passa e vejo as obras do parque escolar, as autoestradas, o TGV, enfim, obras que se realizam para manter os empreiteiros "do regime" a rodar as custas do esforço da população em geral.

Meditemos então nas palavras de Luis Oliveira, enquanto não percebermos que não podemos viver de mendicidade, que temos de baixar o nível de vida de acordo com a riqueza que o pais produz e honrar os nossos compromissos não vamos a lado nenhum, venham lá quantos PECs quiserem.

Cumprimentos cordiais

Luís Passos

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A "bananização" do País

Por Carlos Alberto Amorim, no DN a 22/12

Temos pouco que celebrar neste Natal. Continuamos a ser o povo mais mal governado do mundo de que julgamos fazer parte. Persistimos em vícios de exercício do poder, como um centralismo endémico e uma irremediável compulsão para malbaratar os dinheiros públicos que não temos. A corrupção medra, entrelaçando-se com a normalidade existencial, e já quase nem serve de notícia. O mérito é desdenhado e o sentido do que está certo ou errado confunde-se, embaciado, por entre os exemplos e os dizeres adocicados dos homens públicos. As altas patentes da justiça esforçam-se por agradar e proteger os detentores do poder. A educação é confeccionada em prol dos rankings, sobretudo daqueles que enaltecem o "eduquês" e que, por exemplo, referem o menor número de retenções (o vocábulo politicamente correcto para as reprovações ou chumbos) como a comprovação de que tudo está a melhorar - como se o facto de os professores serem permanentemente desencorajados de reprovar quem pouco ou nada sabe anunciasse alguma qualidade acrescida no ensino.
Cada vez mais, Portugal, tragicamente iludido por se quedar na Europa, conduz-se como se fosse um Paraguai qualquer. Independentemente daquilo que a geografia mostra ou a história nos ensina, hoje, o País revela uma irrefreável vocação terceiro-mundista.
As finanças estão mal, todos o sabemos, mas o caminho em que resvalamos é bem mais largo do que o carreiro das matérias económicas.
Há mais de vinte anos que somos governados em nome da serenidade e através de uma obsessão pela concórdia nas decisões públicas. O regime, após algumas doenças menineiras, assentou a sua autodefesa no paradigma da indiscutibilidade do consenso como ins- trumento que tudo podia. Criou-se o padrão de nunca querer fazer ondas perante os crescentes desmandos públicos, instalou-se a confusão, pouco democrática, entre a diversidade de opiniões e as divisões negativas e insuperáveis. Aos poucos, fez-se a sublimação do unanimismo quanto às questões exibidas como essenciais do regime. O mero esforço de discussão daquilo que era tido como inquestionável arrastava a possibilidade do anátema sem retorno.
Cientes dessas regras do jogo, os políticos acomodaram-se e a nossa sociedade desinformada e pouco participativa imitou-os, aliviada. Ninguém mais ousou inovar em campo algum por onde se espraia a governação. Os velhos dogmas foram sendo repetidos tautologicamente, num ritual mecânico e inconsequente. Governos de cores políticas diferentes aplicaram teimosamente receitas iguais mesmo quando estas já transbordavam antecipadamente a desgraça - desde a Expo'98, ao Euro 2004, às parcerias público-privadas, ao plano de barragens caro e pouco proveitoso, às auto-estradas do "lá vem um" e que não levam a lado nenhum, à irresponsabilidade dos submarinos, à criação de uma vasta clientela de subsidiodependentes, à loucura do TGV, ao crescimento desmesurado da administração.
Os poucos que refutavam estes trilhos eram apelidados de "tremendistas" eivados de má--fé ou de pessimis- tas militantes. Os órgãos de controlo do Estado, desde essas pomposas inutilidades denominadas presidentes da República até às entidades que vigiam as derrapagens públicas, limitaram-se a avisos ténues e sibilinos, quando não alimentaram os piores equívocos.
Chegámos onde estamos por culpa nossa, e não de qualquer tempestade gerada noutras paragens e à qual somos alheios (esta apenas dilatou os males que já cá estavam). Fomos e somos mal governados e aceitamos o facto com uma quietude bovina.
Foi o mito da "serenidade" que nos trouxe até aqui e é a inacção em que estacionámos que nos está a impedir de rompermos com este rumo.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ainda os estudantes

Retirei este texto da caixa de comentários do Blog A Defesa de Faro, pelo comentador Sérgio que acho que analisa bem a situação:

"Extraordinário!!! Gostaria de saber como alguns comentadores se arvoram em falar em nome da maioria da população de Faro! Onde foi realizada a votação? na mesa da Gardy? É óbvio que não concordo com actos de vandalismo e coisas semelhantes, mas não baralhemos as coisas, o que está em causa é o Município de Faro autorizar e depois dar o dito por não dito! Já se esqueceram da promessa, realizada no ano passado, de que não mais se utilizaria o Largo de São Francisco para eventos? São só os estudantes a fazer porcaria nos eventos ali realizados? O que acontece na Festa da Vivimar? e na Feira de Santa Iria? e na outra feira que reinventaram este ano? Sejamos sérios e não joguemos as nossas frustrações em cima dos estudantes! Há uma generalizada falta de civismo de quase "todos" que frequentam as festas realizadas nesta cidade. Esta é a triste realidade, que como Farense constato. Se houver algum erro de português peço desculpas aos super letrados.  - Sérgio "
 Aonde isto vai parar?

Cumprimentos cordiais

Luis Passos