segunda-feira, 16 de maio de 2011

O edificio mais notável de Faro: Palácio Fialho ou Palácio do Alto


O palácio Fialho, surge imponente no meio de uma vegetação como uma visão para quem entra em Faro vindo do lado de Olhão. Tenho a certeza que muito boa gente já se terá interrogado que palácio seria aquele, outros pensariam... ah... é só o edifício do Colégio do Alto, pensando que talvez tenha sido construído de ppropósito para o colégio... nada disso. Vou vos contar a história do meu edifício favorito em Faro.

No sitio onde se ergue hoje o Palácio Fialho, ou Palácio do Alto havia uma quinta que pertencia a Ordem dos Jesuítas do Colégio de Faro. No inicio do Séc. XX ainda existiam alguns vestígios dessa quinta, nomeadamente um armazém junto a azinhaga que desce do Alto de Santo António a quinta da família do Virgílio Inglês Baião. Haveria no local onde se encontra o palácio uma outra casa, com alguns retábulos de azulejo com passarinhos de remontavam ao Sec. XVIII e que Júdice Fialho mandou demolir para construir o seu palácio.

Nesta quinta do colégio existia uma pedreira onde havia em abundância uma pedra denominada Pedra da Atalaia. Sobre a pedreira foram erguidos os alicerces do actual palácio. A pedra extraída foi utilizada para a construção do cercado da Atalaia na Horta da Atalaia que pertenceu ao Dr. Guimarães (antigo professor de liceu).

 A Quinta do Alto, que em tempos pertencera ao Bispo D. Joaquim Santana de Carvalho, no final do Sec XIX foi propriedade do Ministro da Marinha José Bento Ferreira de Almeida, que a vendeu a Paulo Cúmano, cunhado do final possuidor, Júdice Fialho. Foi a Vicente Baptista, tio materno de Honorato Santos que António Júdice Fialho comprou o terreno para erguer o dito edifício.

Foi o arquitecto de grandiosa obra Manuel Joaquim Norte Júnior, notável pela elegância das suas construções e muito viajado pela Europa onde recolhia sugestões para o seu trabalho. Este arquitecto foi também responsável pela construção do Palácio Belmarço (em Faro), da Voz do Operário (Lisboa), do Teatro Variedades (Lisboa), da Sociedade Amor e Patria (Funchal), do Palace-Hotel da Cúria, Grande Hotel do Estoril, Hospital de Salreu, Cine Teatro de Sintra, enfim... ganhou 5 prémios Valmor (a maior distinção em Portugal para a Arquitectura) e uma medalha de Ouro no Rio de Janeiro.

Como já referi noutros blogs, nomeadamente "A defesa de Faro", Norte Júnior é para mim um dos maiores arquitectos Portugueses de todos os tempos. São poucos os que chegaram a este palmarés de prémios. Não sei se haverá algum arquitecto em Portugal que tenha ganho 5 prémios Valmor. Para além disso... como também já tinha referido, é o meu arquitecto preferido. O trabalho deste homem... é notável, e é pena que tenha caído no esquecimento.

A construção iniciou-se em 1915 e durou 10 anos, e excitou a curiosidade de toda a Cidade de Faro. Júdice Fialho foi habitar o seu palácio a 2 de Maio de 1925

Sito num terreiro ajardinado, e com bonitas balaustradas a ornar-lhe as laterais. Janelos, Janelas e Trapeiras ornam-lhe as 4 faces e sublinham os diferentes pisos. É um palácio por excelência, desde a vasta cave pavimentada a mármore até aos sótãos que são amadeirados de nobres madeiras e forrados a ardósia.
O palácio de estilo francês, é um "Petit Trianon" composto por 3 corpos, 2 laterais e 1 central, como é habitual neste tipo de modelo da arquitectura francesa do Séc. XVIII, e foi inspirado num palácio existente no Valeé de la Loire.


 Na fachada principal, a porta nobre para a qual dá uma escadaria de 14 degraus, é flanqueada por dois pares de colunas de mármore, de ordem jónica, e sobrepujada por uma janela de composição semelhante sobre cujo dintel há um oval destinado a um brasão, rodeado de relevos de estilo, terminando toda a composição em frontão clássico ladeado de ligeiras balaustradas ornadas pelos habituais acrotéricos.
De cada lado, das duas janelas de dintel em arco e outras três de dintel fantasiado comum a todas as outras, cujo desenho se repete nas do primeiro andar. Em cada uma das fachadas laterais, no R/C abrem nove portas, cinco das quais de dintel mais trabalhado. No primeiro andar, nove janelas, as cinco das quais de dintel mais trabalhado. No primeiro andar, nove janelas, as cinco centrais dentro de balcão com balaústre. Nas vertentes do telhado, a toda a volta, as pequenas janelas dos sótãos, tal como acima do solo, os janelos da cave, agrupados simetricamente dois a dois e três a três.


O interior principia por um vasto vestíbulo, com um monumental fogão de mármore e uma pintura oval no tecto que se julga representar "O rapto das sabinas". Para esta zona dão 4 portas almofadadas, sobre cada uma das quais se vê uma pintura. Comunicam com as salas do R/C: - à esquerda uma só, com pintura oval no tecto, paredes apaineladas aprestadas para receber quadros, dois dos quais penso que ainda lá devem permanecer - "A morte de S. João Baptista" e a "Visitação de Nossa Senhora". As portas exteriores dão para a varanda com a balaustrada.

Do outro lado, com outra sala de paredes apaineladas, onde campeia uma Sagrada Familia com S. João, havendo no tecto uma pintura oval inclusa - "Anjos e Meninos", um belo lambris em madeira que de resto acompanha todos os grandes salões da casa e novamente outro fogão de mármore. Era a sala de Jantar, e penso que hoje é utilizada como refeitório do Colégio, mas não posso garantir. Em redor estão as copas, e numa delas está instalado o monta-cargas, o primeiro a ser instalado no Algarve, para trazer a comida da cozinha situada na cave.

Escadaria Principal em Mármore
 Do vestibulo, ornado por seis colunas jónicas monolíticas, quatro geminadas e as outras solidárias, parte a imponente escadaria de mármore com um lanço central e dois laterais, que conduzem ao andar nobre. Este piso estava provido de enquadramentos nas suas paredes para preciosas tapeçarias. Desconheço se estas ainda existem actualmente, penso que não. Todo este espaço é iluminado por uma imensa claraboia. Este espaço foi inspirado no edifício da Câmara Municipal de Lisboa. O salão central, primitivamente era a sala de música, é hoje utilizado como a capela do colégio. Em todo o palácio não há uma única divisão com aspecto de ter sido usada como capela doméstica, por isso se pode concluir que não é verdade que o retábulo da antiga capela do Paço Episcopal, por sinal da autoria do entalhador farense Miguel Nobre, tivesse sido comprado para ali ser instalado.
No 1º piso, para onde se pode subir de elevador -  o primeiro a ser instalado no Algarve, existem vários grupos de salas que se julgam ter sido suites - Quarto, vestiário, WC agora aproveitados para dormitórios do colégio. Outros compartimentos mais pequenos teriam sido mais quartos ou salas para uso diverso.

Todo o edifício e cortado interiormente por largos corredores, que lhe dividem as salas. As divisões que não são nobres, não deixam de ter sido estucadas com delicadeza, apresentado estuques de elevada qualidade e rigor. Até nas quadras aproveitadas nos sótãos e nas caves a preocupação da beleza não ficou  ausente.

Nos pavimentos das grandes salas foi aplicada a melhor madeira do Brasil, as colunas e degraus da escadaria nobre formam cada um o seu bloco de mármore, vindos da região de Lagos, neste caso puxados de carro de bois até ao cais, carregados numa embarcação, levados por mar até Faro, descarregados e carregados de novo em juntas de bois indo pela Rua de Santo António até ao Alto.
A madeira do telhado em Pitch Trim, veio toda expressamente da América do Norte e foi da melhor qualidade. Para fornecer energia ao palácio de modo a alimentar a iluminação e os dois elevadores, foram instalados 2 geradores de grande potência. Foi também instalada uma maquina de fazer gelo, a primeira que o Algarve conheceu, e que fornecia Gelo ao Hospital enquanto não se arranjou outra solução.

O enorme fogão a lenha da cozinha (hoje já deve ter sido substituído por um a gás ou eléctrico) foi considerado nesse tempo o maior a sul do Tejo.

Fora do recinto palaciano, ladeado por balaustradas fica então a quinta, com os seus verdejantes jardins, com árvores de espécies raras, o que dá um encanto idílico a esta construção, e que faz dela a construção mais notável da Cidade de Faro.

Hoje o palácio é propriedade privada da igreja, não sendo possível aos demais cidadãos farenses de visitar o palácio. É uma pena, uma vez que o edifício reúne todos os requisitos para nele ser instalado um museu de arte contemporânea, ou mesmo um conservatório musical. Um desperdício ser utilizado como dormitório e refeitório, privando os farenses do usufruto de um edifício daquelas características, único na região. Poder-se-ia ter um espaço semelhante a alameda João de Deus com um Museu lá dentro (o palácio) e com um verdejante jardim com bastantes árvores e espaços verdes semelhante à alameda, ou ainda se quisermos usar outro excelente exemplo, o Parc Monceu em Paris, em que um dos palácios foi transformado no Conservatório Musical da Paris e o Jardim é semi publico (à semelhança da nossa alameda João de Deus). O que irá acontecer daqui a uns anos é que a igreja irá vender todos os terrenos junto a antiga estrada de Olhão para construção, e da Nova Alameda Júdice Fialho (até já lhe estou a dar um nome, se a cidade a quiser aceitar) nem vê-la. É triste quando isto acontece!

Na Quinta adjacente, a igreja, para rentabilizar o espaço, aluga a antiga casa da quinta para festas de baptizados e casamentos. Penso que Júdice Fialho a saber desta situação estará a dar voltas no túmulo. Mas é o interesse económico a falar mais alto.

Gostaria de publicar mais fotografias do interior, apenas tenho uma antiga, da escadaria, que encontrei na net, e que é digitalização de algum livro. Gostaria de saber como era a decoração nos tempos de Judice Fialho. Penso que antes do Palácio ser vendido a igreja católica por uma quantia irrisória, foi despojado do seu mobiliário, das suas obras de arte, tapeçarias e demais obras. Se alguém poder confirmar isto agradeço.

Gostaria também de publicar uma planta dos diversos pisos. Se alguém tiver uma e não se importe de ma enviar, também agradeço, aqui a publicarei. Se alguém tiver fotografias do interior e não se importar de as partilhar, também as agradeço.

Espero que tenha sido do vosso agrado esta viagem que fizemos ao Palácio Fialho ou Palácio do Alto, o meu edifício favorito em Faro.

Cumprimentos cordiais

Luís Passos

6 comentários:

  1. O Palácio do Fialho ou do Alto, ao fundo da Estradinha Funda (escondido, quase de costas voltadas a Faro) tráz-me algumas recordações, não só porque de algum modo estive ligado a uma das netas do Fialho, mas porque o visitei muitas vezes na companhia do meu pai, funcionário de uma das muitas empresas do império Fialho.
    Mas o que me leva a escrever neste local que agora descobri, não é o saudosismo, mas sim o de imaginar o que terá levado um dos genros de Fialho, a ceder o Palácio à Igreja, a custo zero em 1953?
    Seria uma forma de pagar a entrada do sogro no Céu, uma forma de aliviar o peso de consciência de uma fortuna imensa conseguida (como quase todas), com base nos ensinamentos da "Ilha dos Pinguins"?

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  2. Saudações
    Foi de nosso agrado receber esta informação maravilhosa.
    Eu e minha família ficamos interessados pela origem de nosso sobrenome que é similar ao de Júdice Fialho (Fialho).
    Não somos portugueses mas nosso sobrenome é,somos brasileiros moramos no estado do Pará,no município de Castanhal (pesquise no Google).
    Gostaríamos de saber duas coisas, a primeira é se ouve alguma relação de Júdice Fialho com Brasil, a segunda é se existe algum descendente de Júdice Fialho que ainda reside em Faro.
    Esperamos respostas
    Cordialmente família Fialho

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  3. manda minha resposta sobre a pergunta

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  4. Fui aluna deste colégio. No ano passado, após cerca de 35 anos houve um reencontro de antigas alunas. Deixo aqui, com este link, o acesso a várias fotos deste maravilhoso palácio.

    https://picasaweb.google.com/krxtna/AlmocoColegio310312?authuser=0&authkey=Gv1sRgCMHF7ZidqPGQYg&feat=directlink

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  5. ANTIGA ALUNA DO COLÉGIO DO ALTO1 de agosto de 2014 às 15:52

    ANTIGA ALUNA CO COLÉGIO DO ALTO

    Fui aluna (interna) do Colégio do Alto de 1968 a 1972... maravilhoso. O Palácio servia de residencia e as aulas no pavilhão atual estabelecimento de ensino misto.

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  6. Orgulho de ter esse sobrenome

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