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domingo, 29 de maio de 2011

Paquete Infante D. Henrique é o navio do mês na SS maritime

(imagem clicar para ampliar)

Leiam o artigo publicado no magazine SSmaritime sobre o paquete Infante D. Henrique e vejam fotografias únicas do seu interior. Um artigo a não perder!

Contudo existe um erro no artigo da SS Maritime, que diz que o Vera Cruz foi baptizado com o nome de uma cidade do México... nada mais errado, o nome Vera Cruz e o nome atribuído pelo Portugueses ao Brasil (Terras de Vera Cruz) quando do seu achamento. O navio quando foi construído era destinado a rota do Brasil e a Rota do Ouro e da Prata (Venezuela e Caraíbas), daí se ter escolhido este nome. Nada a ver com cidades mexicanas.

Cumprimentos cordiais

Luís Passos

Mais umas fotos do paquete Vera Cruz





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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Recordando o Paquete "Vera Cruz" - Com video raro do Vera Cruz a navegar


Caros,

Hoje é dia da marinha, e para o comemorar venho-vos apresentar este post sobre o primeiro dos 4 grandes paquetes nacionais, o paquete "Vera Cruz".


O paquete Vera Cruz foi um dos mais famosos navios da Companhia Colonial de Navegação. Com duas turbinas a vapor e casco em aço, foi construído em 1951 pelos estaleiros da Société Anonyme John Cockerill, em Hoboken, Bélgica.
Destinava-se à carreira da América do Sul, para transporte de passageiros e de carga, e ocupou um lugar significativo na história da emigração portuguesa para o Brasil. Estava equipado com modernos aparelhos de radar, com alcance de 30 milhas, agulha giroscópica e piloto automático. Os passageiros, que se podiam alojar em três classes. Dispunha de salas de cinema, jardim de Inverno, piscina e hospital. 

Dispunha de camarotes para 8 pessoas em classe de luxo, 190 em primeira, 200 em segunda e 844 em terceira, num total de 1242 passageiros. Desenvolvia uma potência de 25.500
cavalos, atingindo uma velocidade máxima de 22 nós. O seu comprimento era de 185,50 m e a boca máxima cerca de 23 m.


Na viagem inaugural, iniciada a 20 de Março de 1952, com destino ao Rio de Janeiro, teve como passageiro de honra o almirante Gago Coutinho. Era o início de sua viagem inaugural na Rota de Ouro e Prata e que o levaria a atravessar os dois Atlânticos, Norte e Sul, com destino aos portos sul-americanos do Rio de Janeiro, Santos, Montevidéu e Buenos Aires.
Para identificar os detalhes técnicos relativos à construção e às características desses dois novos transatlânticos, irei transcrever partes do texto do historiador marítimo português Luís Miguel Correia, do livro: Paquetes Portugueses (publicado em Lisboa em 1992 pelas Edições Inapa):
 
"De concepção extremamente avançada para a época, o Vera Cruz e o Santa Maria foram os primeiros paquetes portugueses, uma vez que todos os navios de passageiros anteriores eram unidades mistas de passageiros e carga. Pelas suas dimensões e características, o Vera Cruz e o Santa Maria eram grandes paquetes de prestígio, cuja imponência e elegância representavam condignamente Portugal em qualquer porto do mundo."

"A construção destes navios marcou um período de ressurgimento da marinha de comércio nacional, que, passados 40 anos, podemos classificar como a fase de maior desenvolvimento da história dos transportes marítimos portugueses desde a introdução do vapor."

"Sem querer pôr em causa as limitações do sector, que existiam efectivamente, foi possível renovar a nossa frota mercante com a aquisição de navios novos, adequados às necessidades do país, de que o Vera Cruz e o Santa Maria foram os melhores exemplos."

"Ligado a estas realizações, é justo referir o então ministro da Marinha, comandante Américo Thomaz, conhecedor profundo dos assuntos ligados à marinha mercante, a cujo desenvolvimento dedicou perto de duas décadas de trabalho."

"Com cerca de 20 mil toneladas, 20 nós (37,5 quilômetros horários) de velocidade e lotação para 1.200 passageiros, os gêmeos Vera Cruz e Santa Maria marcaram uma época."

"A concepção e planeamento do Vera Cruz obrigaram os técnicos do Estaleiro John Cockrill a 86 mil horas de trabalho."

"A pré-fabricação começou no início de 1950, tendo-se procedido o assentamento da quilha do Vera Cruz em 13 de maio deste ano."

"O navio foi lançado à água a 2 de junho de 1951, efetuando-se na mesma data o assentamento da quilha do Santa Maria. Foi madrinha do Vera Cruz dona Gertrudes Thomaz, esposa do ministro da Marinha."

"Na construção do Vera Cruz, foram utilizadas 8 mil toneladas de aço e 150 toneladas de alumínio, sendo instalados no navio 240 quilômetros de cabos elétricos e 96 quilômetros de encanamentos. Estiveram envolvidos na construção do Vera Cruz cerca de 1.000 técnicos e operários, que trabalharam durante 18 meses."

"Navio-almirante da marinha mercante portuguesa e da frota da Companhia Colonial de Navegação, o Vera Cruz foi entregue à CCN a 23 de fevereiro de 1952, no porto de Antuérpia (Bélgica), depois de concluir com êxito as provas de mar."

 
"Além de ser o maior navio português, o Vera Cruz era também a maior unidade até então construída na Bélgica, tendo assistido à cerimonia de entrega do paquete as individualidades mais importantes daquele país. Comandado por Hilário Filipe Marques, o Vera Cruz deixou Antuérpia a 28 de Fevereiro, chegando a Lisboa a 2 de Março de 1952. Durante a estadia no Tejo, o Vera Cruz foi visitado pelas grandes figuras do regime, com destaque para o presidente da República, general Craveiro Lopes, presidente do Conselho de Ministros, dr. Antônio de Oliveira Salazar."

"Cada um dos dois hélices de três pás do paquete pesava 16 toneladas e o Vera Cruz consumia 140 toneladas de fuel oil (óleo combustível) e 200 toneladas de água por cada dia de navegação. Foram instalados a bordo os mais modernos aparelhos de ajuda à navegação, nomeadamente agulha giroscópica, piloto automático, odômetro elétrico, radar com alcance de 30 milhas (55,5 quilômetros), radiogoniômetro, sonda e radiotelefone."

"Os interiores deste paquete eram considerados luxuosos para a época, incluindo numerosos salões, bares, cinemas, jardim de inverno, duas piscinas e amplos tombadilhos e solários, hospital com cinco enfermarias, salas para crianças e todas as facilidades consideradas necessárias para um grande transatlântico, incluindo ar condicionado."

"Henri Boulanger e Andrade Barreto foram os responsáveis pela decoração dos interiores do Vera Cruz, em que colaborou grande número de artistas portugueses."

"No seu conjunto, os interiores do Vera Cruz proporcionavam um ambiente luxuoso e confortável, mas pesado, traduzindo o gosto da época e um certo conservadorismo estético, em contraste com uma muito maior simplicidade e profusão de cores dos paquetes Augustus e Giulio Cesare, construídos na mesma época na Itália, igualmente para a carreira da América do Sul.

Sala de Jantar - Clicke na foto para ampliar
  "O Vera Cruz tinha 350 tripulantes, dentre os quais 38 oficiais."

 
Muitos estão lembrados, ou já ouviram falar, da grandiosa despedida do Vera Cruz ao deixar Lisboa na sua viagem inaugural, rumo ao Brasil. Mas, poucos saberão como foi a recepção do outro lado do Oceano Atlântico.
A primeira escala do Vera Cruz ao Brasil deu-se no sábado, dia 29 de março de 1952, no Rio de Janeiro. Como a Imprensa havia noticiado com antecedência a chegada do famoso transatlântico, a cidade despertou cedo, milhares de pessoas aglomeraram-se na Praça Mauá e nas proximidades do porto.

Devido a forte nevoeiro, houve um atraso e somente após as 12 horas foi feita a atracação do tão esperado paquete português.

Brasileiros e portugueses, sob sol ardente, esbanjavam alegria, sem conter seu entusiasmo. Nunca um navio de qualquer nacionalidade foi tão bem recebido.

Ainda na Baía da Guanabara, o navio todo engalanado, sob comando de Hilário Filipe Marques e tendo a bordo o armador Bernardino Corrêa, viu-se cercado de várias embarcações, que apitavam incessantemente. O que era prontamente respondido pelo Vera Cruz, como que saudando a terra amiga, que por sua vez se enchia de sol para recebê-las à altura.


 Bandeiras portuguesas e brasileiras estavam desfraldadas em seus mastros. De terra os foguetes explodiam, dando um tom festivo. A alegria era geral.

No local de atracação, bandas tocavam e a orquestra de bordo retribuía. No cais, o povo explodia de júbilo e entusiasmo, e a bordo acontecia o mesmo.


Os passageiros que desciam do navio foram recebidos com muito carinho e amizade por parte dos curiosos que foram assistir ao "espectáculo".

A bordo vinham várias autoridades e celebridades, a convite da Companhia Colonial de Navegação (CCN). Entre elas o almirante Gago Coutinho, os senhores comandantes Enrique Tereiro, Pereira Viana e Francisco Fialho; o coronel Antônio Manuel Batista; o capitão Teófilo Duarte e outras pessoas de destaque, além de jornalistas dos principais jornais de Portugal.

Também a rainha do fado Hermínia Silva e a Missão Cultural Portuguesa, formada por escritores, professores e historiadores, que foi o alvo de homenagens dos círculos intelectuais do Rio de Janeiro.


As solenidades oferecidas pelos brasileiros aos ilustres visitantes portugueses foram tantas que é quase impossível enumerá-las.

Entre elas, o banquete do Itamarati, as recepções na Academia Brasileira de Letras, na Reitoria da Universidade do Brasil, no Clube Ginástico Português, no Liceu Literário Português.


O presidente do Brasil, à época, Getúlio Vargas, acompanhado de sua esposa, Darcy Vargas, almoçou a bordo do Vera Cruz, a convite da embaixada de Portugal.

Com grande jantar oferecido pela CCN, à colónia portuguesa e à sociedade carioca, foram encerradas as comemorações. O armador Bernardino Corrêa, em breves palavras, saudou os portugueses e brasileiros, de quem tantas atenções recebeu.

O maior paquete português da época navegou rumo a Santos, na madrugada de 3 de Abril (quinta-feira), chegando à barra por volta das 13 horas.

Guardadas as devidas proporções, a recepção calorosa dada ao Vera Cruz em Santos não ficou atrás da do Rio, milhares de portugueses e brasileiros, vindos de São Paulo, reuniram-se com seus conterrâneos residentes em Santos para festejar e testemunhar o acontecimento.

Por volta de 14 horas, o novíssimo transatlântico é abordado pela lancha do Serviço de Praticagem, e a bordo sobe Gérson da Costa Fonseca, que na época era prático preferencial da CCN, através de seu agente em Santos, a Companhia Comercial Marítima.


"Em 40 anos de actividade em Santos como prático, nunca vi nada igual, como a chegada do Vera Cruz. Conduzir o navio pelo canal do porto, através da grande manifestação de júbilo popular, com milhares e milhares de pessoas acenando das amuradas da Ponta da Praia, outras embarcações apitando e os gritos emocionados de alguns passageiros, tudo isto deixou-me uma recordação inigualável", diz o ex-prático do porto.


Após a atracação no cais próximo ao Armazém de Bagagem, o transatlântico foi aberto para visita de autoridades, convidados especiais e representantes da Imprensa paulista e santista, aos quais foi oferecido o tradicional aperitivo de boas-vindas.
  
No dia 4, o navio foi aberto para o público em geral, formaram-se filas no cais para visitar o novo orgulho da marinha mercante Portuguesa.
No dia seguinte, a CCN ofereceu um almoço a bordo às principais autoridades de Santos, comparecendo o então prefeito municipal, Francisco Luiz Corrêa; o presidente da Câmara Municipal, Antônio Moreira; o capitão dos Portos do Estado de São Paulo, comandante Raja Gabaglia; e outras personalidades de destaque.
À noite, a CCN ofereceu banquete de gala ao governador do Estado de São Paulo, Lucas Nogueira Garcez, acompanhado da esposa, do chefe do cerimonial do Palácio Campos Elíseos e dos secretários do Governo em várias pastas; do comandante da região militar e do capitão dos Portos.
Após dois dias e duas noites de permanência no Porto de Santos, o Vera Cruz zarpou em direcção ao Rio da Prata, com escalas em Montevidéu (Uruguai) e Buenos Aires (Argentina).

Da data de sua viagem inaugural, até 1954, o Vera Cruz permaneceu servindo a Rota de Ouro e Prata ao lado do gémeo Santa Maria, com saídas alternadas dos portos "cabo-de-linha", Lisboa e Buenos Aires, a cada três semanas.

A partir de julho de 1954, o Vera Cruz passou a servir também a linha da CCN para a América Central, com escalas em Vigo (Espanha), Funchal (Ilha da Madeira), Tenerife (Ilhas Canárias), La Guaira (Venezuela), Curaçao (Antilhas Holandesas) e Havana (Cuba).

Junto com o Santa Maria, alternaram-se, ora servindo a carreira das Caraíbas e América Central, ora cobrindo escalas na Rota do Ouro e Prata segundo as melhores necessidades operacionais e de rendimento determinadas pela direção da armadora.

Em 1957 faleceu o fundador e animador principal da CCN, o armador Bernardino Corrêa, e nas viagens que estavam em curso, todos os navios da companhia colocaram a bandeira no mastro de popa (ré) a meio-pau.

Com o deflagrar dos conflitos da independência das colónias em Angola e Moçambique, a partir de 1960, o Estado português viu-se na obrigação de reforçar militarmente as colónias na tentativa de conter e eliminar os focos de resistência à ordem estabelecida.

Assim, no decorrer de 1961, várias unidades da marinha mercante de Portugal foram requisitadas pelo governo para servirem como transporte de tropas ou como navios de carga de material bélico.

O Vera Cruz não escapou à nova realidade e, ao retornar a Lisboa de sua viagem, a que seria na verdade a última, na Rota de Ouro e Prata (efetuada em março e abril daquele ano), o transatlântico foi rapidamente adaptado para as funções de navio-transporte e posto sobre o controle operacional da Marinha de Guerra, sempre, porém, com as cores da CCN.


 Seguiu-se a partir de então um longo período onde alternaram-se viagens sob o comando naval e viagens puramente comerciais, a maioria destas realizadas entre Lisboa e Lobito/Luanda (Angola).
Esta fase durou até 1971. Em janeiro do ano seguinte, o transatlântico, após realizar uma viagem como transporte de tropas, foi ancorado no Rio Tejo, aguardando-se a decisão sobre o futuro.

Tal decisão só foi tomada um ano mais tarde e ela marcaria o fim do transatlântico. Após 20 anos de sua entrada em serviço, sendo portanto relativamente novo e ainda em condições de serviço, o Vera Cruz foi vendido para desmonte e sucata a uma empresa empresa especializada de Taiwan.


 Em 4 de março de 1973 largou pela última vez as amararas do cais de Lisboa com destino a Formosa, desaparecendo assim dos oceanos, mas não de nossa memória, que lhe guarda recordação perene.

Fotos: Luis Miguel Correia (retiradas ao acaso da Internet) 
Texto: Paquetes Portugueses, diversos blogs e artigos.

 FICHA TÉCNICA


Vera Cruz:

Outros nomes: nenhum
Bandeira: portuguesa
Armador: Companhia Colonial de Navegação (CCN)
País construtor: Bélgica
Estaleiro construtor: Societé Anonyme John Cockerill
Porto de construção: Antuérpia
Ano da viagem inaugural: 1952
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 21.765 t
Propulsão: 2 grupos de turbinas, com 2 hélices
Comprimento: 185,75 m
Boca (largura): 23 m
Velocidade máxima: 23 nós (42 km/h)
Passageiros: 1.242
Classes: 1ª -    148
                2ª -    250
                3ª -    844
Tripulação: 350 homens, sendo 38 oficiais
Fonte: CCN e LLoyd's Register


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Recordando o Paquete Infante D. Henrique

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Esta é a história de um navio que outrora foi o navio almirante da nossa frota de Marinha Mercante, refiro-me , como não podia deixar de ser ao "Infante Dom Henrique".
Vivemos num pais de imensa tradição marítima, mas onde apenas nos preocupamos com futebol ou com escândalos políticos e nada fazemos para salvaguardarmos o que culturalmente nos pertence ou pertenceu. Tudo isto é absurdo, porque não podemos pensar no futuro sem salvaguardar o passado. A revolução de Abril de 74 deu a machadada final e nos anos que se seguiram ao terrível dia a maioria dos navios que compunham a nossa imensa frota marítima, quer de guerra quer mercante, foi vergonhosamente abatida ou doada aos movimentos terroristas nas nossas províncias africanas.
Poucos foram os casos em que entidades públicas e privadas portuguesas se esforçaram por concretizar actos de conservação do nosso património.


O "Infante D. Henrique" foi o sonho do armador Bernardino Corrêa, o fundador da Companhia Colonial de Navegação, que nunca o chegou a ver. Foi construído na Bélgica nos estaleiros da Jonh Cockeril, em Hobboken, o mesmo estaleiro onde já tinham sido construídos o Vera Cruz e o Santa Maria. A 21 de Setembro de 1961 entrou na barra de Lisboa embandeirado em arco, iniciando assim um serviço promissor para a Marinha Portuguesa. Com a sua aquisição fechou-se o ciclo de renovação da frota, iniciada ao abrigo do chamado despacho 100, elaborado pelo então Ministro da Marinha, Américo Thomaz.


O Infante era um navio clássico com a sua famosa chaminé em formato de gota de água com uma enorme grelha de ventilação na parte frontal; com os seus 195,50 m de comprimento, 24,5 de boca e 24.000 toneladas de deslocamento, atingia uma velocidade de cruzeiro de 21 nós, podendo atingir uma máxima de 22-23 nós se as condições o permitissem. Aquando do lançamento do casco de côr cinzento esverdeado, a côr tradicional da CCN, foi utilizada uma garrafa de vinho do Porto, cuja marca ninguém sabe. Talvez um «Porto Ferreira», em vez da tradicional garrafa de champanhe. A madrinha foi a esposa do administrador da companhia, que na altura, rezam os manuscritos, era José Soares da Fonseca .
Na época foi bastante criticado por ser bom demais e era o maior navio de passageiros da carreira de África.
Em qualquer porto era motivo de atracção e registo. A sua imponência e o perfil majestoso despertavam o interesse de todos os curiosos. Era um excelente embaixador português á semelhança do navio-escola Sagres.


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Já o então Presidente da República, o Almirante Américo Thomaz, gostou tanto do navio que no dia seguinte à chegada a Lisboa voltou a visitá-lo, segundo as crónicas da época. No interior, era um excelente navio, de um luxo impressionante. A decoração foi entregue a decoradores e artistas portugueses sob a responsabilidade do arquitecto José Manuel Barreto. Funcional e moderno, a luz privilegiava a amplitude dos espaços, o que tornava o navio mais bonito.
Uma estátua de bronze revestida a Ouro, do escultor Álvaro Brèe, perpetuava a figura do Infante, tendo como fundo um fresco representando o planisfério de Mecia de Viladestes, no vestíbulo da 1ª Classe.


 Na véspera do 5 de Outubro de 1961, com lotação esgotada, o Infante D. Henrique fez-se ao mar, dando inicio á sua primeira Viagem pelo Império português no continente africano.
O navio era movido por dois grupos de turbinas a vapor, que accionavam duas hélices, navegando a uma velocidade de 21 nós. Por cada dia de navegação o Infante D. Henrique consumia 150 toneladas de fuel e 200 de água. Um sistema de estabilizadores avançado neutralizava o balanço provocado pela ondulação em dias impróprios para os mais sensíveis passageiros. Dispunha de ar condicionado em todos os compartimentos e zonas de lazer, assim como um moderníssimo sistema de navegação e comunicações e de combate a incêndios.


Tinha capacidade para 1018 passageiros distribuídos por três classes: 1ª Classe, Turística e Turística B.
Além de quatro grandes salões e bares, o Infante D. Henrique dispunha de dois restaurantes, biblioteca, sala de leitura, sala de escrita e duas salas para crianças, cabeleireiro, hospital e duas capelas, cujos altares foram fabricados com pedra do promontório de Sagres. Impressionante no mínimo !

De 1961 a 1976, efectuou inúmeras viagens ao continente africano como navio de transporte de passageiros, realizou vários cruzeiros e transportou o Presidente da República Américo Thomaz em viagens oficiais.


Com a revolução de Abril e devido à situação politica nas províncias Portuguesas, as viagens alteraram-se radicalmente. Ou seja, o navio quando rumava para Sul, viajava completamente vazio e regressava cheio de espoliados e refugiados fugidos ao terroristas separatistas a quem os traidores entregaram as nossas províncias africanas.


Realizou o seu último cruzeiro ao Funchal de Dezembro de 1976 a 3 de Janeiro de 1977, ficando fundeado no mar da Palha até Maio de 1977, ano em que o GAS ( Gabinete da área de Sines) o adquiriu para acomodar alguns dos milhares de trabalhadores do complexo da área de Sines. Foi colocado numa lagoa artificial tornando-se uma presença bizarra e cara por terras alentejanas, degradando-se rapidamente.


Ao contrário do que acontecera a outros navios portugueses, cujo o fim era Kaohsiung, o cemitério de navios para a sucata, na Ilha Formosa, no ano de 1986, com o crescimento do mercado de cruzeiros no mundo, o armador grego George Potamianos adquiriu-o e transformou-o num paquete de luxo. Totalmente renovado interiormente, mantendo as linhas clássicas, o navio chegou a Lisboa em 1988, com o nome de «Vasco da Gama». Potamianos fez renascer este navio que, durante seis anos, realizou cruzeiros nas Caraíbas e deu a volta ao mundo por diversas vezes. Continuou a ser motivo de admiração e registo em qualquer porto a que aportava.


Em 1994, foi vendido á Premier Cruises, companhia americana, para cruzeiros nas Caraíbas, o seu nome foi mudado novamente para Seawind Crown. No ano 2000, ficou sedeado na Europa, em Barcelona, para cruzeiros no Mediterrâneo, mas sem grande sucesso, devido á forte concorrência de outras companhias, como a Costa Crociere, o que provocou, uma vez mais, a sua imobilização. Por falência da companhia e por ordem da Autoridade do Porto de Barcelona, o navio ficou arrestado nesse mesmo ano. O seu último comandante foi Amadeu Albuquerque.



Em Abril de 2000 o SEAWIND CROWN iniciou em Barcelona os cruzeiros da Pullmantur, que obtiveram enorme êxito e foram interrompidos inesperadamente em Setembro desse ano na sequência da falência da empresa armadora Premier Cruises, seguindo-se um longo período de imobilização arrestado em Barcelona que acabou em 2003 com a venda do navio a interesses indianos e a largada a 28-12-2003 para a China, com o nome BARCELONA e bandeira da Geórgia. O nosso antigo INFANTE DOM HENRIQUE foi desmantelado em Março - Maio de 2004 na Republica Popular da China. 

Durante os três anos que permaneceu acostado ao molhe norte do porto de Barcelona aguardando que alguém novamente o pusesse a navegar pelos quatro cantos do mundo ou simplesmente o adquirisse para o tornar num ex-libris, nenhum interessado apareceu. Encontrava-se em excelentes condições podendo assim navegar por mais uns 40 anos, mas a má sorte bateu de vez à porta e resta-nos apenas recordá-lo com orgulho e muita saudade.

Ficha Técnica

Características:
Arqueação bruta - 23 306 toneladas
Comprimento - 195.5 metros
Boca - 24.5 metros
Lotação - 1 018 passageiros
Potência - 22000 Cv
Propulsão - 2 Grupos de Turbinas, 2 veios, Hélices de 4 pás
Velocidade de cruzeiro - 21 nós
Construtor - Estaleiros John Cockeril, em Hobboken,

(fonte: "100 anos 100 barcos"  Museu de Marinha, 2000)

Fases da vida do Navio

1961 - 1977


 1988 - 1995


1995 - 2004


Ao meu amigo Alváro Forra...

Luís Passos

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Navio "SERPA PINTO" da Companhia Colonial de Navegação

Caros,

Aqui vos deixo uma foto do antigo paquete "Serpa Pinto" que em tempos já foi o melhor navio de passageiros português.


Fonte: SHIPS & THE SEA - BLOGUE dos NAVIOS e do MAR

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O paquete Santa Maria

A livraria Pátio das Letras vai promover dia 2 de Outubro, Sábado, o lançamento do livro "Eu roubei o Santa Maria", de Jorge SoutoMaior, oficial galego que comandou o assalto. A apresentação é de José António Barreiros e conta com a presença de Camilo Mortágua.

Para os mais curiosos, deixo-vos aqui informação técnica sobre o navio e alguma memorablia.

SANTA MARIA

TipoNavio de passageiros de 2 hélices
ConstrutorSociété Anonyme John Cockerill
Local construçãoHoboken - Bélgica
Ano de construção1952
Ano de abate1973
RegistoCapitania do porto de Lisboa, em 9 de Novembro de 1953, com o número H 421
Sinal de códigoC S A L
Comprimento fora a fora185,60 m
Boca máxima23,09 m
Calado à proa8,41 m
Calado à popa8,41 m
Arqueação bruta20.906,31 Toneladas
Arqueação Líquida11.876,67 Toneladas
Capacidade5.495 m3
Porte bruto7.716 Toneladas
Aparelho propulsorDois grupos de turbinas, construídos em 1953 pela Société Anonyme John Cockeryll, em Seraing, Bélgica. Seis caldeiras, para 32 K/cm2 de pressão.
Potência25.500 cavalos
Velocidade máxima22 nós
Velocidade normal20 nós
PassageirosAlojamentos para 8 em classe de luxo, 148 em primeira classe, 226 em segunda classe, 200 em terceira e 600 em terceira suplementar, no total de 1182 passageiros.
Tripulantes293
ArmadorCompanhia Colonial de Navegação - Lisboa

Fotos

Foto 1 - Port Everglades, Florida (Estados Unidos)
Foto 2 - Port Everglades, Florida (Estados Unidos)

Foto 3 - Santa Maria em Lisboa

Foto 4 - Santa Maria no Funchal
Foto 5 - Santa Maria no Funchal
Foto 6 - Bar de 1ª Classe
 O ASSALTO AO SANTA MARIA

"Em Janeiro de 1961 deu-se o assalto ao paquete "Santa Maria", incidente que na época notabilizou a contestação ao Governo de Oliveira Salazar, e introduziu a prática, depois muito difundida internacionalmente, de sequestrar navios e aviões com fins políticos.
O "Santa Maria" havia largado de Lisboa a 9 de Janeiro de 1961 em mais uma das suas viagens regulares à América Central, fazendo escala no porto venezuelano de La Guaira no dia 20. Entre os passageiros embarcados neste porto, contava-se um grupo de 20 membros da DRIL - Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação, organismo constituido por opositores aos regimes de Franco e Salazar, cujo comandante era o capitão Henrique Galvão, que embarcou clandestinamente no "Santa Maria" um dia depois, em Curaçau, com mais três elementos da DRIL. Galvão estava exilado na Venezuela desde Novembro de 1959, e em Julho de 1961 havia concluído os planos de assalto ao "Santa Maria". Fora escolhido este paquete por ser muito superior aos diversos navios de passageiros espanhóis que na altura faziam a carreira da América Central. O capitão Galvão pretendia deslocar-se no "Santa Maria" até à colónia espanhola de Fernando Pó, no golfo da Guiné, cuja tomada permitiria em seguida efectuar um ataque a Luanda e iniciar, a partir de Angola, o derrube dos Governos de Lisboa e de Madrid.
Horas depois da largada de Curaçau, o "Santa Maria" navegava rumo a Port Everglades, na Florida, com 612 passageiros e 350 tripulantes, sob o comando do capitão da Marinha Mercante Mário Simões da Maia, quando, precisamente à 1 hora e 45 minutos da madrugada de 22 de Janeiro de1961, os 24 homens de Henrique Galvão tomaram conta da ponte de comando e da cabine de TSF, dominando os oficiais do navio. O terceiro piloto João José Nascimento Costa ofereceu resistência aos assaltantes e foi morto a tiro. Pouco depois, o "Santa Maria" alterou o rumo para leste, procurando alcançar rapidamente o Atlântico. A 23 de Janeiro, o navio aproximou-se da ilha de Santa Lúcia e desembarcou, numa das lanchas a motor, 2 feridos graves com 5 tripulantes, comprometendo a possibilidade de atingir a costa de Africa sem ser detectado. No dia 25, o paquete cruzou-se com um cargueiro dinamarquês, traindo a sua posição, o que permitiu a um avião norte-americano localizar o "Santa Maria" horas depois. Finalmente a 2 de Fevereiro o "Santa Maria" fundeou no porto brasileiro do Recife, procedendo ao desembarque dos passageiros e tripulantes. Chegou a ser considerado o afundamento do paquete, mas no dia seguinte os rebeldes entregaram-se às autoridades brasileiras, obtendo asilo político, ao mesmo tempo que o "Santa Maria" voltava à posse da Companhia Colonial de Navegação.
Os passageiros do paquete assaltado foram transferidos para o "Vera Cruz", que saiu do Recife a 5 de Fevereiro, chegando a Lisboa a 14 do mesmo mês, após escalar Tenerife, Funchal e Vigo. Por sua vez o "Santa Maria" largou do Recife a 7 de Fevereiro, entrando no Tejo, embandeirado em arco, a 16 e atracando a Alcântara...
... Independentemente dos aspectos políticos que na altura rodearam o caso "Santa Maria", este incidente acabou por fazer do navio o mais famoso dos paquetes portugueses. Embora o "Infante D. Henrique" e o "Príncipe Perfeito" fossem mais recentes, o "Santa Maria" era um navio de prestígio por excelência, situação a que não era estranho o facto de ser o único navio de passageiros português a manter uma ligação regular entre Portugal e os Estados Unidos da América.
Coincidindo com o desvio do "Santa Maria", deflagraram a 4 de Fevereiro, em Luanda, incidentes graves, seguidos, em Março, do começo da guerra no Norte de Angola. O Governo de Lisboa decidiu enfrentar a situação, enviando a partir de Abril ràpidamente e em força importantes reforços militares. Esta decisão implicou, de imediato, a requisição de diversos paquetes e navios de carga afretados pelo Ministério do Exército para efectuarem o transporte de tropas e material de guerra. A utilização esporádica para este fim de navios de passageiros portugueses vinha já do século XIX, passando a partir de 1961 a constituir uma das principais ocupações permanentes dos paquetes portugueses...









in Paquetes Portugueses de Luis Miguel Correia






Foto 7 - O Santa Maria a chegar depois do assalto
Foto 8 - O Santa Maria a chegar depois do assalto